EACH agora oferece café da manhã no bandejão

Pela primeira vez, desde sua fundação, o Campus Leste disponibiliza a refeição aos alunos

Por Rafael Castino

Na segunda-feira, dia 7 de agosto, o restaurante universitário da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP iniciou a venda de cafés da manhã. A medida, de caráter experimental e aguardada há muito tempo pelos alunos, faz parte do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE)  da Universidade.

Fundada em 2005, é a primeira vez que a EACH fornece café da manhã aos seus estudantes. Semelhante a outros restaurantes — como o do  Butantã, o valor é de R$0,50 e o universitário tem direito a pão, manteiga, uma fruta, café e leite. A refeição acontece entre 7h e 8h. Segundo o professor Dib Karam, responsável pela prefeitura do campus Leste, o objetivo é que os alunos cheguem mais cedo, se alimentem e estejam presentes no horário da aula, sem provocar prejuízos ao semestre letivo.

A experiência tem contrato de um ano com a Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP. As outras refeições na EACH são de responsabilidade de empresas terceirizadas, algo que impõe uma série de limitações ao café da manhã. “A Básica (empresa terceirizada) tem a licitação para servir almoço e jantar. O café não entrou nesta lista, assim, está sendo feito de maneira experimental, com matéria prima da SAS, transportado do Butantã mas dentro do espaço da empresa.”, explica Araceli Ribeiro, nutricionista do campus Leste.

Até o momento, caminhões estão fazendo o transporte diário de alimentos entre o campus Butantã, onde são preparados, e a EACH. Este procedimento deve acabar em breve, ou ao menos diminuir, tendo que a SAS busca implementar equipamentos de cozinha de posse da Universidade no campus Leste, como por exemplo, um fogão — que possibilitará o preparo do café e o aquecimento do leite nas dependências eachianas.

“Neste início de atividades, trabalha-se apenas com frutas como maçã e banana — mais fáceis de armazenar e higienizar. Não temos espaço físico para corte de outros alimentos como melancia, abacaxi ou melão e nem para o preparo. Por enquanto, não há estrutura suficiente, estamos buscando adaptar algumas coisas, no entanto, esperamos que tudo melhore.”

“Uma solução caseira, de ordem simples, barata e efetiva”, está é a maneira como o Dib Karam define a iniciativa dos cafés. A expectativa é de que 400 alunos, diariamente, usufruam da refeição na Universidade — número alcançado apenas com a soma dos dois primeiros dias do benefício. Na visão do professor, os estudantes ainda estão se acostumando com a ideia.

As recargas para utilização do benefício são semelhantes às de outras refeições. Para carregar seus cartões, os estudantes devem utilizar o Sistema Rucard (https://sistemas.usp.br/rucar); o Aplicativo Cardápio USP, disponível para Android e iOS ou comparecer ao Ponto de Venda, localizado ao lado do Restaurante Universitário, no horário das 11h às 14h e das 17h às 19h. Vale lembrar que o Ponto de Venda não fica aberto durante o funcionamento do Restaurante para o café da manhã.

 

Refeição sustentável

Um dos objetivos estabelecidos ao café da manhã é que ele seja um exemplo de sustentabilidade aos restaurantes universitários das demais unidades. Os eachianos são incentivados a levarem suas próprias canecas, distribuídas no início do ano letivo, para evitar o uso de copos plásticos. Na primeira semana, a administração forneceu descartáveis aos que esqueceram seus recipientes, entretanto, o número foi consideravelmente baixo — dentre os 203 cafés vendidos, apenas 19 copinhos foram solicitados.

Por outro lado, com a baixa infraestrutura inicial, utensílios descartáveis são utilizados durante a refeição. Nestes primeiros dias, alunos estão recebendo facas plásticas para cortar seus pães, frutas e passar manteiga. Segunda Victória Rampazzo, este é um dos pequenos problemas “A manteiga é mais consistente, o que acaba dificultando um pouco. Como é algo recente, ainda creio que eles pretendam colocar uma faca ‘normal’ em breve.”

 

Medida é considerada uma conquista estudantil

Pleiteados há muito tempo, os cafés da manhã eram motivo de reivindicações junto a outros objetivos relacionados à permanência estudantil dos uspianos. Desde 2015, estudantes do campus Leste realizaram “acampaços”, paralisações na rodovia Ayrton Senna (http://www.esquerdadiario.com.br/Estudantes-da-EACH-fecham-Rodovia-Ayrton-Senna-por-permanencia-estudantil), manifestações e diversas reuniões com a Reitoria da Universidade em busca deste benefício. Na visão de Araceli, a nutricionista, o início destas refeições deve ser visto como uma vitória dos estudantes.

Victória Rampazzo, aluna do 6º semestre de Gestão Ambiental, comenta que achava decepcionante o fato da EACH ficar “esquecida” em relação ao benefício dos cafés. “Certo dia, conversando com uma colega estudante do Butantã, perguntei sobre essa refeição em seu campus e ela me respondeu que lá sempre disponibilizaram cafés da manhã no ‘bandejão”. Isso deixou uma dúvida:  ‘por que nós aqui da  EACH não temos este benefício?’ Fiquei decepcionada, criando expectativas quanto a isso.”

A novidade foi muito bem recebida pelos alunos. Muitos estudantes, como Victória, chegam cedo na EACH e podem aproveitar deste tempo para tomarem seu café. “Sempre chegava mais cedo na faculdade e acabei me surpreendendo com o fato de encontrar bastante gente durante o café da manhã, a EACH parecia muito vazia por volta das 7h30”, comenta. “Para mim é perfeito! Não preciso acordar mais cedo para tomar café em casa, o preço é em conta e a refeição é saborosa — o café adoçado, por exemplo, está ao meu gosto. Os primeiros dias foram bem bons!”.

Para Nabi Oliveira, aluno do 6º semestre de Gestão de Políticas Públicas e representante discente da Congregação, “Tratar de permanência estudantil na EACH é tratar da evasão iminente de estudantes da unidade, ainda mais agora, com esta adoção da política de cotas. Propor cotas sem permanência é uma falácia.”

Segundo dados, o campus Leste é a única escola pertencente a USP na qual mais de 30% dos ingressantes são autodeclarados pretos, pardos ou indígenas — fazendo-os parte do programa de inclusão (PPI’s). Para além deste número, cerca de 50% dos estudantes eachianos são oriundos da rede pública de ensino.

“Qualquer retração na política de permanência estudantil da USP pode colocar em xeque a concepção de USP Leste — que veio para a região da Zona Leste guiada sob a responsabilidade de saldar a dívida social histórica que o estado mantém com a localidade”, explica Nabi.

Além de garantir a alimentação para um grupo expressivo de universitários até então negligenciado, o café da manhã também é responsável por desonerar custos na alimentação da comunidade estudantil de maneira ampla.

Em e-mail enviado à comunidade eachiana, a representação discente da unidade reiterou a importância de sua atuação para vitória. “É o caminho para estruturarmos conquistas”, diz parte do texto