Futuro do Centro de Saúde da FSP ainda é incerto

Usuários e funcionários temem a desvinculação da unidade referência para idosos

Por Daniel Miyazato e Luís Henrique Franco

Na segunda-feira, dia 9, ocorreu na Faculdade de Saúde Pública da USP uma reunião entre os usuários, os funcionários e a administração do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza (CSEGPS). O objetivo foi eleger uma comissão que será responsável pelo processo de eleição de um Conselho Gestor para participar das negociações com a Prefeitura sobre a renovação do convênio com o município.

Desde o final de agosto, a discussão entre a administração do CSEGPS e a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo tem provocado insegurança. Referência no tratamento de idosos da região, o Centro teve seu convênio expirado no dia 30 de agosto, sob ameaça de não renovação. A pressão exercida por funcionário e usuários, porém, levou à prorrogação do prazo até o dia 31 de outubro, e negociações para a renovação foram iniciadas, mas a situação ainda é obscura.

“Nós estamos vivendo um momento de certa apreensão, porque a ideia que a Prefeitura tem de assistência social é outra”, explica Rodolfo Felipe Neder, vice-presidente da Associação de Usuários do Centro (USOSUS). “Primeiro ameaçaram não renovar o convênio, e agora dizem que querem renovar, mas não dizem como nem quando”.

Além do desamparo aos pacientes, a realocação pode acarretar na demissão de funcionários (Por: Daniel Miyazato)

Um dos maiores medos diz respeito à possível retirada da URSI, Unidade Referência da Saúde do Idoso, e sua realocação para um outro centro privado na região da Lapa, onde o atendimento seria pago. Usuária do centro, Arlete Maria Castro Machado, de 70 anos, teme a retirada da unidade e garante que o atendimento lá é de grande qualidade. “São muito atenciosos, tratam o paciente como um todo, não dão só aquela olhadinha básica”. O mesmo afirma Maria Eunice Silva, de 54 anos. Segundo ela, o centro lhe garantiu um atendimento que ela não conseguiria pagar em outro lugar. “Precisava de uma placa e não tinha condições de mandar fazer, mas as pessoas do Centro liberaram o tratamento”.

A mesma insegurança é revelada por outros usuários, que se encontram na mesma situação de desconfiança, sem saberem exatamente o que está acontecendo e sem uma resposta definitiva por parte da Secretaria de Saúde. Tereza Ferreira de Lima, enfermeira, 65 anos, dos quais 37 foram dedicados ao CSEGPS, crê que se o contrato não for renovado, o Centro não terá condições de continuar funcionando. “Antes do convênio, nós entrávamos antes do horário e saíamos depois para manter o mínimo de atendimento. E com uma série de problemas, porque não tínhamos funcionários suficientes. Com a contratação dos 47 profissionais, estamos um pouco melhor. Caso eles sejam demitidos, voltamos para um situação ainda pior, já que muitos servidores se aposentaram”, lembra Tereza.

A enfermeira ainda ressalta que se trata de um centro de saúde escola, ou seja, é preciso dar atenção aos estudantes da área de saúde. Ela conta que recebem alunos de vários institutos não só da Universidade, como também de outras faculdades públicas e particulares.

Quem compartilha da mesma opinião é a também enfermeira Luciana Xavier Junqueira. Ela reforça que se trata de um lugar de referência no tratamento de idosos e destaca alguns dados como os 58 mil prontuários abertos e as 14288 pessoas vacinadas na última campanha contra gripe. “O convênio com a Prefeitura melhorou muito o trabalho. Tínhamos dois funcionários no agendamento, hoje temos cinco. Na equipe de enfermagem, tínhamos sete, agora temos mais oito. Sendo que temos de atender mais de cinco especialidades e serviços. E recebemos muitos idosos, que precisam de bastante atenção”.

Em posicionamento oficial, a Secretaria Municipal de Saúde diz que tem intenção de renovar o convênio e que este foi “prorrogado para elaboração de um novo plano de trabalho”. Segundo eles, “O objetivo é a readequação da parceria para que se atenda às necessidades da Prefeitura de São Paulo e ofereça melhores serviços à população dentro dos padrões da nova gestão”. A administração do Centro diz estar confiante na renovação, mas os processos burocráticos deixam todos em uma grande incógnita.