Por Claire Castelano
Na busca do ideal de educação fundamentada na democracia e na tolerância, projetos pedagógicos como o Redigir – curso gratuito que, busca trabalhar as ferramentas da língua necessárias para fortalecer a comunicação e a cidadania, voltado para maiores de 16 anos com ensino fundamental completo e que nunca tenham estudado em escola particular ou universidade pública – mantém vivo os ideais defendidos por Paulo Freire. O programa busca “eliminar a hierarquia professor-aluno e se distancia da escola tradicional que simplesmente deposita o conhecimento na cabeça dos alunos”, como explica Rafael Tenório, educador do Redigir.
A educação como prática da liberdade, defendida por Paulo Freire, enxerga o educando como sujeito da história, tendo o diálogo e a troca como traço essencial no desenvolvimento da consciência crítica. É nesse sentido que o Redigir se baseia, como conta Rafael: “enquanto educadores, entendemos que não temos o monopólio do conhecimento, os educandos têm muito a ensinar e, em conjunto, podemos aprender muito mais do que individualmente”. Em sala de aula, segundo o pensamento freiriano, os dois lados devem aprender juntos, um com o outro, e, para isso, é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. “Na organização da sala, não colocamos as carteiras em filas, mas sim em uma grande roda, e os educadores se sentam misturados aos educandos. Tudo isso serve para minimizar todos os elementos opressores da educação tradicional. Assim, os educandos não participam só por medo de reprovar, eles aprendem pelos motivos certos”, diz Rafael.
Para Freire, ninguém aprende sozinho, aprende-se em comunhão. É isso que Matheus Martins, aluno do Redigir, relata: “aqui, ninguém é melhor do que o outro, todos nós somos iguais, há um compartilhamento de experiências que agrega muito, porque o meu conhecimento serve para a outra pessoa e o conhecimento de outra pessoa serve para eu usar na minha vida também”.
Uma educação de qualidade seria aquela que fugiria das padronizações alienantes e, por isso, como propôs Paulo Freire, funcionaria com o educador criando a sua própria forma de educar. Elodi Angela, educanda do Redigir, aponta que o ambiente que suas educadoras a proporcionam, a incentiva a se comunicar melhor, pois “elas tratam todo mundo igual, com aquele respeito. É um aprendizado totalmente diferente, mas ótimo, com respeito, sem receio e com muita liberdade”.
A educação que o projeto Redigir propõe é recíproca, pois, como afirmou o próprio Paulo Freire em Pedagogia do oprimido, “nenhuma pedagogia que seja verdadeiramente libertadora pode permanecer distante do oprimido, tratando-os como infelizes e apresentando-os aos seus modelos de emulação entre os opressores. Os oprimidos devem ser o seu próprio exemplo na luta pela sua redenção.”