Corte de verbas e falta de funcionários foram justificativas para o fechamento
Por Luís Henrique Franco e João Victor Escovar
No dia 21 de novembro, o Hospital Universitário (HU) fechou o Pronto Socorro Infantil, deixando de prestar atendimento pediátrico aos pacientes, com exceção daqueles encaminhados pelas unidades de saúde da região. O hospital também sinalizou a intenção de fechar seu Pronto Socorro Adulto em dezembro deste ano. A medida tem como justificativa a falta de contratação de funcionários para o atendimento e o corte de gastos realizado pela Universidade. Apesar das tentativas de contatar a administração, o Hospital Universitário não se posicionou sobre a mudança.
Até abril de 2016, o pronto-socorro infantil do HU operava 24h por dia, mas foi restringido apenas para o período entre 7h e 19h, em virtude da diminuição do quadro de funcionários, o que provocou, segundo a administração do Hospital, a impossibilidade de atender bem durante todos os horários. Recentemente, o Ministério Público determinou que o pronto-socorro infantil voltasse a funcionar em turno integral. culminou no pedido de demissão da médica Patrícia Takahashi, uma das preceptoras do curso e dos estágios de alunos da Enfermagem e da Medicina, devido a sobrecarga de trabalho
Para os moradores da região, a retirada do PS é vista como uma preocupante perda. Muitos temem ter que procurar o auxílio necessário em locais mais distantes e não tão eficientes. “Moro a menos de três quilômetros daqui, então tudo que é doença eu vou no HU,” diz o funcionário da USP André Luiz Inácio, pai de três crianças. Para ele, a situação é de desamparo e preocupação. O mesmo sente a usuária do HU e do PS Infantil Naiara Borges, 25 anos, que soube do fechamento por mensagens no Facebook. “Eu acabei de passar no PS, e mesmo com encaminhamento do posto de saúde, eles não estão atendendo mais, só internação.”
Manifestações pelo HU
No dia 21, quando foi fechado o Pronto Socorro Infantil, uma mobilização de alunos de diversas faculdades da USP, funcionários e usuários ocorreu na frente da Reitoria do Campus Butantã, exigindo a contratação imediata de médicos. Na mesma semana, no dia 24, outra manifestação reuniu diversas pessoas no P3 para promover um “abraço” no HU e levar uma carta ao reitor com as demandas de contratação de funcionários pela USP e manutenção dos serviços do hospital.
“Ao pensar na formação em saúde, a gente tem que pensar em quais as reais necessidades de uma população. As doenças mais prevalentes são as que a gente vê no HU, então o que chega lá é o que a gente vai atender no nosso dia a dia”, diz Maria Renata, que cursa o quinto ano de Medicina. “Se ficarmos sem isso, teremos uma formação muito incompleta”.
Importância para a Comunidade
Idealizado em 1967, o HU é o principal centro da saúde da região do Butantã. Segundo dados de 2015, só a Pediatria havia realizado mais de 13 mil atendimentos ambulatoriais, 64 mil atendimentos de emergência e quase 2 mil internações.
Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e clínico do hospital, Gerson Salvador, o efetivo da unidade reduziu-se como um todo em 20% nos últimos anos, por ocasião do Plano de Demissão Voluntária de 2014 e a precarização das condições de trabalho. De acordo com ele, o pronto-socorro adulto também corre grave risco de ser fechado, pois para a segunda metade do mês de dezembro, existe apenas um médico disponível para o setor.
Hoje, com dois médicos, o atendimento já é insuficiente. Antes da crise com os pronto-socorros, a USP já havia retirado o atendimento de emergência em oftalmologia e operava sem mais vagas para gestantes e recém-nascidos, que seriam transferidos para outros hospitais.
“Eu trabalhava na segunda-feira, e nós fazíamos plantões em quatro médicos, atualmente nós fazemos plantões em dois”, afirma Liz Andréa Yoshihara, médica que trabalha no PS do HU. “O problema é falta de funcionário. A gente não consegue mais cobrir os plantões.”
Outro motivo de preocupação diz respeito à graduação e estágios dos cursos de Saúde. Como foi noticiado na edição 482 do JC, desde o começo do mês de novembro, os alunos dos cursos de Medicina e Enfermagem estão em greve exigindo, principalmente, contratações de funcionários para o HU diretamente pela USP, de forma a manter o serviço e o ensino que sempre foram prestados pela instituição.
Lucas Tiago, do primeiro ano da Enfermagem, relata a importância do HU para a promoção de ligas, associações estudantis com aulas teóricas, projetos de pesquisa, atendimento ambulatorial, entre outras atividades que visam incrementar a formação acadêmica em uma área específica da saúde. “A liga de emergência, por exemplo, depende completamente do PS adulto para funcionar”, afirma. João Carlos, do quarto ano da Enfermagem, reforça a importância do HU para os estágios do curso. “No PS Infantil, tive a oportunidade de fazer meu estágio em Saúde da Criança. A principal consequência desse fechamento é a perda do principal, se não o melhor, campo de estágio que a gente vai ter, e como é um hospital de pesquisa também, várias pesquisas da Escola de Enfermagem são aplicadas aqui, então o polo de pesquisa vai ser perdido.”