EACH inicia graduação em biotecnologia

Campus da EACH, na Zona Leste, inaugurado em 2005

Por Juliana Lima e Vitor Garcia

Uma nova graduação passa a ser oferecida pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na Zona Leste de São Paulo: o Bacharelado em Biotecnologia, que começa neste primeiro semestre.

O novo curso oferece 60 vagas, todas para o período diurno, e tem duração mínima de quatro anos – 18 vagas serão ocupadas por ingressantes do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e 42 pela Fuvest. O processo seletivo teve 394 inscritos, a terceira graduação mais concorrida da USP Leste.

Ao mesmo tempo em que foi criado o novo curso, foram também eliminadas 60 vagas do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da EACH, cuja procura vinha sendo inferior ao número de vagas ofertadas.

De acordo com o coordenador do curso de Biotecnologia, Felipe Alcalde, o bacharelado tem como objetivo “formar profissionais e pesquisadores com uma sólida formação interdisciplinar, qualificados para o desenvolvimento de atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação nas áreas de biotecnologia da saúde e da agroindústria”.

O curso junta disciplinas como biologia, química, medicina, ciências ambientais, engenharias, física, computação e outras.

Opiniões divididas

A alocação do curso na EACH divide opiniões. Proposto pelos professores da faculdade, o bacharelado está implementado numa unidade cuja estrutura não é tão completa quanto a da Cidade Universitária.

Entre os alunos, alguns não gostam da escolha da EACH, por ser um campus distante do centro. Para outros, essas questões não interferem muito, como para o calouro David Graciani, que veio do interior do Rio de Janeiro: “Pessoalmente, a distância não é incômodo, pois quando me mudei para São Paulo, vim para um local que permitisse acesso relativamente fácil ao campus – o que não aconteceu com todos os alunos, no entanto.”

O estudante João Ruy explica que a princípio achou desvantajoso o curso na EACH. “Porém isso foi um preconceito meu. Após entrar em contato com a equipe ‘eachiana’ percebi que seria mais que vantajoso estudar naquele campus, pois além de profissionais de excelente instrução, os alunos são acolhedores, brigam pela melhora, pela justiça e pelo social. Isso traz o espírito inovador, revolucionário e social que um curso novo necessita.”

Por outro lado, Stéfanni Von, também ingressante do curso, aponta que em um primeiro momento tinha gostado da localização, por morar na Mooca, também na Zona Leste de São Paulo. “Mas conforme fomos conhecendo o campus acredito que a estrutura do Instituto de Química ou de Biologia teria mais condições de nos receber”, explica. Ela salienta, contudo, que pode ser uma opinião equivocada. “Só tivemos duas semanas pra conhecer.Para o secretário de Comunicação da Liga Nacional dos Acadêmicos em Biotecnologia, Bruno Pereira, a escolha do campus foi “no mínimo curiosa”. Segundo ele, “cursos como marketing não são geralmente vistos no mesmo centro que um curso tão voltado à pesquisa e ao mercado como é o de biotecnologia. Além disso, essa localização acaba retirando algumas disciplinas que poderiam ser proveitosas aos alunos, e que são oferecidas em outros centros.”

Bruno afirma ainda que o curso “tem uma constituição interessante de disciplinas obrigatórias, mas algumas das eletivas não são muito direcionadas ao profissional biotecnologista.”

Segundo o coordenador do curso, Felipe Alcalde, na EACH os docentes atendem às disciplinas dos diversos cursos da unidade. Por isso, as disciplinas propostas para a graduação em biotecnologia foram distribuídas entre os docentes da USP Leste, prevendo que exista interação entre o novo curso e os demais.

Orçamento e empresas

Desde o início, o curso de biotecnologia está no centro de algumas polê- micas. A primeira é a criação do novo bacharelado em um momento no qual a USP afirma estar em crise financeira.

O curso foi aprovado na mesma reunião que decidiu pela criação da graduação em medicina no campus de Bauru.

Segundo o coordenador, a criação do curso não gerou aumento substancial das despesas permanentes da USP por se tratar de uma readequação do número de vagas oferecidas. A implantação demandou somente a contratação de dois novos docentes, prevista na proposta orçamentária de 2018.

Houve também o gasto de R$ 313 mil referente à compra de novos equipamentos para o laboratório, valor remanejado do orçamento anual da Pró-Reitoria de Graduação. “O curso não gera impacto nenhum, pois foram remanejada vagas ociosas aproveitado o potencial de docentes já contratados pela USP e com atuação da EACH”, defende o coordenador Felipe Alcalde.

A Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), em reportagem veiculada em 2017, expôs que “o argumento de que a Universidade despende por volta de 100% de seu orçamento com folha salarial não impediu a criação de cursos que certamente aumentarão gastos.”

Para a Adusp, o que parece estar por trás da criação do curso de biotecnologia são o empreendedorismo e a parceria com empresas. Ainda segundo a reportagem citada, “o lançamento foi feito na Reitoria, longe do local no qual o curso será oferecido, a EACH, sem convite ou comunicação à comunidade da escola, mas com a presença de representantes das empresas Monsanto, Thermo Fisher Scientific, LGC Biotecnologia e G&E”.

Ainda segundo a Adusp, “fica claro que o curso está alinhado a um projeto de universidade com pretensões essencialmente voltadas para o mercado, seja na formação de mão de obra, seja no desenvolvimento de produtos”.

De acordo com o coordenador do curso, não houve qualquer participação de recursos privados. “O contato com as empresas listadas e sua presença foi para estabelecer um relacionamento que possa facilitar o acesso aos laboratórios de ponta dessas instituições, para a realização do estágio dos alunos.”