USP não tem solução para as construções paralisadas

Praca dos museus da USP,  paralisada em 2014 (foto: Diego Andrade)

Por Etienne Faivre

Um dos mais evidentes problemas do orçamento da USP, os chamados “elefantes brancos” são prédios parados porque a Superintendência do Espaço Físico (SEF), órgão que gere todas obras da Universidade, teve de interromper a construção.

Testemunhos da falta de orçamento da USP, a maioria dessas obras parou durante a gestão Zago (2014-2017), principalmente em 2014, ano em que a Universidade rescindiu R$ 184,7 milhões em contratos de obras. Duas obras iniciadas durante a gestão anterior, de João Grandino Rodas (2010-2013), também não avançaram.

“Infelizmente, esse contexto econômico nos obrigou a parar obras que foram retomadas depois, mas o centro de convenções e a praça dos museus estão parados até hoje,” disse Francisco Ferreira Cardoso, professor da Escola Politécnica e superintendente da SEF. O órgão ainda é responsável pelas habilitações que a lei exige, em questões ligadas à segurança, acessibilidade e prevenção contra incêndios.

Com um orçamento anual de R$ 40 milhões, os institutos recorrem até ao financiamento privado para desenvolver projetos. Exemplo disso é o prédio chamado de “Nova USP”, em frente à ECA, que contou com financiamento público e privado.

No campus Butantã, há projetos emblemáticos que não avançam. Uma dessas obras é a Praça dos Museus, iniciada em 2011, localizada próxima ao portão três da Cidade Universitária. Com orçamento inicial em R$ 100 milhões, o projeto total consistia em uma praça coberta, um prédio para acolher o Museu da Zoologia, no Ipiranga, o Museu de Arqueologia e Etnologia e um espaço para exposições diversas. O lançamento estava previsto para 2013, mas o projeto foi adiado e depois parado em 2014. Segundo a SEF, ele precisaria de quase R$ 200 milhões para ser acabado.

Na mesma avenida da Praça, há outro elefante branco: o centro de convenções da USP, cuja obra foi paralisada na mesma época. Destinado a eventos, o espaço de 36 mil metros quadrados contaria com uma sala de projeção de 157 lugares e três auditórios, de 1.450, 620 e 218 assentos.

Atualmente, 70% da obra está concluída. Com o valor para terminar o prédio estimado em perto de R$ 60 milhões, a Universidade fez uma audiência pública para a concessão de direito de uso e exploração do local, e abriu o projeto ao financiamento privado em 2016.

Mas até hoje, o prédio desenhado por Paulo Bruna — que também projetou a Faculdade de Direito de Ribeirão Preto e a Livraria da Edusp — não encontrou interessados no setor privado. Nesses dois casos, a USP perdeu dinheiro por não ter concluído as obras. A reitoria afirmou que não teve de pagar multas por questões legais e contratuais, mas que tem gastos com os a segurança e manutenção dos prédios inacabados.

Fora do campus Butantã, o Museu Paulista está fechado desde agosto de 2013 por causa do risco de desabamento do forro. Administrado pela USP desde 1963, o Museu é certamente o edifício mais famoso da Universidade: em 2012, antes do fechamento, era o mais visitado do Brasil. O plano da Reitoria é reabrir esse prédio para as comemorações do bicentenário da independência, em 2022.

A reabilitação desse prédio inclui estudos de sua estrutura e outros trabalhos que vão além da restauração do lugar, como melhorias na acessibilidade e expansão na área do museu, que deve comportar salas de aulas e um auditório de 380 lugares.

Seria também construído um novo prédio, para acolher laboratórios de pesquisa. Um túnel subterrâneo ligaria as duas edificações. O valor é hoje estimado em mais que R$ 100 milhões, muito superior à previsão original, de R$ 20 milhões. O custo está bem acima do orçamento da USP, que deve procurar parceiras do setor privado para conseguir reabrir o museu na data emblemática.

Outra obra parada é um ginásio sob a responsabilidade da prefeitura do campus de Bauru. Uma reforma dos vestiários, incluindo duas plataformas para pessoas com necessidades especiais, foi paralisada porque a empresa ganhadora da licitação não conseguiu executar o que foi contratado.  Depois de todos os trâmites legais para a rescisão do contrato, no começo deste ano um novo processo foi iniciado e ocorreu uma nova licitação, no valor de R$ 670.656,25.

Obra paralisada na Praça do relógio se destinaria à polícia militar e à guarda universitária (foto: Diego Andrade)

Na Cidade Universitária, também foi interrompida a construção de dois prédios para a guarda universitária e a polícia militar, na Praça do Relógio. A construção parou por uma razão parecida com a de Bauru: a empresa a cargo da construção teve problemas. A superintendência abriu novas licitações para esses prédios e diz que espera acabar os dois projetos em breve.

A Universidade também é responsável por prédios concluídos, mas abandonados. É o caso de um edifício localizado atrás da Faculdade de Direito, no centro da cidade. Ele é ligado ao prédio central por uma passarela, que está inutilizada e precisaria ser reformada. Ainda não não existe nenhum plano para essas melhorias.

Na rua José Bonifácio, nos arredores da faculdade, houve ainda um projeto de moradia para os alunos internacionais em 2012, mas que não foi levado adiante. Atualmente, o prédio está ocupado pelo movimento “Frente de Luta pela Moradia”.

“Hoje não tem recurso. Não estamos na casa de papel”, diz o professor Cardoso. Esses prédios precisam de manutenção mesmo estando com as obras paradas. A Reitoria ainda precisa trocar os tapumes em volta desses prédios, melhorar a segurança e tirar o mato crescendo para assim manter o patrimônio. Segundo o superintendente, o que falta na USP é um orçamento maior. “Pela ambição da Universidade, R$ 5 bilhões é pouco dinheiro, essa é a realidade”, diz. O valor citado corresponde ao orçamento anual da USP.

Essas obras paradas e abandonadas viram testemunhos da falta de orçamento da USP, que hoje não consegue até manter aberta a obra a mais orgulhosa pertencente à USP, o Museu do Ipiranga, um dos mais famosos do Brasil. Eles poderiam até mudar de política, mas o problema é esse: não há orçamento suficiente na USP, que sempre precisa procurar orçamento no setor privado para conseguir realizar os diferentes projetos de engenharia civil.