O pesquisador Ivan Paganotti discute o problema das notícias falsas nas redes sociais
Por Bruno Nossig e Gabriela Bonin
Ivan Paganotti é professor do Mestrado Profissional em Jornalismo na FIAM-FAAM. Tendo sua formação inteira na Universidade de São Paulo, estudou a censura ao jornalismo em seu doutorado. Atualmente, Ivan pesquisa a compreensão do fenômeno de fake news e lidera o curso virtual Vaza Falsiane, para ensinar como as notícias falsas costumam a aparecer e como identificá-las.
O que são as “fake news”?
Existem muitas definições, amplas e restritas. Algumas pessoas consideram que o mais adequado é você fazer um conceito amplo para incluir qualquer informação incorreta dentro do pacote. Seria, então, um termo mais amplo, as false news, desde de um áudio de Whatsapp até um erro da imprensa. Existem alguns problemas de você colocar conceitos diferentes dentro do mesmo guarda-chuva porque acaba havendo confusão com conceitos mais antigos, como erro da imprensa, engano e boato, que são fenômenos com resolução em via legais e sociais. Então, alguns outros pesquisadores preferem utilizar uma definição mais específica de fake news, que é: notícia falsa em um site que é criado para publicar informação comprovadamente falsa que são propagadas em redes sociais usando a linguagem ou formato jornalístico.
Vimos fake news sendo tiradas das mídias sociais pelo TSE. Como você vê essa decisão?
Houve uma atuação bem pequena do TSE nesta eleição, é um número quase a ser desconsiderado, pensando em sua eficiência. No sentido de checar, de questionar, de denunciar, de apontar as fraudes, foi a imprensa que teve um papel pedagógico. Mas a imprensa não tem o poder de remover essas informações e diminuir a sua visibilidade. Não é ruim a Justiça não ter agido, pois é muito fácil abrirmos espaço para censura ou a captura de uma legislação bem intencionada contra as notícias falsas e depois, a legislação se tornar uma forma de proibir divergência e denúncia. Temos que lembrar que estamos em um período de transição e fragilidade e, não sei se esse é o momento para aprovarmos leis que possam posteriormente ser capturadas com finalidades autoritárias. Durante o governo Obama, algumas legislações foram aprovadas, e durante o governo Trump, eles aproveitaram essa legislação para aumentar o mecanismo de vigilância e controle, por exemplo na questão de imigração. Não era o objetivo original dessas legislações, mas elas acabaram sendo capturadas para essas finalidades.
Cresce muito um sentimento contra a mídia, principalmente na campanha de Bolsonaro. Isso é um fenômeno?
A curto prazo, o objetivo das fake news é o que estamos vendo agora: criar confusão, destruir reputações, apoiar um candidato ou uma proposta política. É miopia política considerarmos que elas são criadas somente para mexer em um momento específico, existe um objetivo a longo prazo. Alguns indivíduos criam essa situação de equivalência, que a imprensa erra tanto quanto os sites de fake news. Isso tira a credibilidade da imprensa e de outras instituições e cria desconfiança em relação às críticas feitas pelas instituições. O ceticismo saudável e a desconfiança se tornarão em um cinismo completo; as pessoas não acreditarão mais em nada. Então, é muito positivo para lideranças autoritárias construir esse espaço de desconfiança na imprensa, pois no momento em que elas forem questionadas elas podem, simplesmente, desconsiderar essas críticas e taxar de fake news. Diversos líderes tem feito isso, como, Trump, Putin e Erdogan.
Qual a diferença das fake news nas eleições municipais e dos Estados Unidos de 2016 e do Brasil em 2018?
A eleição americana não era muito nacional, era uma eleição em alguns estados, os ‘swing states’, que estavam pendendo entre os republicanos e os democratas. As fake news eram pensadas em distritos, ou seja, em termos de valores da população, era mais específico. Em uma eleição municipal, também, temos um público muito mais restrito. É possível controlar esse espaço e fazer uma campanha focada em questões locais. Mesmo quando tínhamos questões nacionais trazidas para o espaço municipal, ainda era uma demanda muito próxima do público. A questão agora é que são 100 milhões de eleitores no Brasil e procura-se mensagens que cheguem nos eleitores em um volume incomparável ao das eleições anteriores. As redes sociais parecem ter substituído, em um primeiro momento, uma articulação nacional e ser mais eficiente que os modelos tradicionais, como os sindicatos e o horário eleitoral gratuito. Mas, ao mesmo tempo, isso pode ser só um soluço. Se a população demonstrar desconfiança em relação ao Whatsapp e Facebook, imaginando só existir notícias falsas nas redes, elas vão abandonar essas plataformas.