Periódicos feitos por alunos são cada vez mais raros, salvo exceções obrigatórias
Por Letícia Tanaka
Você que está lendo isso agora, talvez saiba o Jornal do Campus é produzido pelos alunos de jornalismo da ECA, como disciplina obrigatória. Com isso se aprendem as dificuldades de articular um jornal, como encontrar pautas, manter os prazos, preencher os espaços da página, manter o diálogo entre redação e edição.
Entretanto, este jornal e outros produzidos na ECA (São Remo e Claro!) não são e nem deveria ser as únicas produções jornalísticas estudantis da USP. Pensando nisso, conversamos com alguns alunos que participam, ou participaram, de trabalhos jornalísticos em seus institutos.
Esses veículos internos são, em sua maioria, espaços de livre expressão de alunos. Muitos deles pedem para que os estudantes, além do corpo editorial, enviem seus textos. Eles podem ser artísticos ou opinativos, além de notícias da unidade.
A maior parte dos corpos editoriais dos jornais encontrados são formados pelos centros acadêmicos das unidades como ECA, IF, FM e IB. Das quatro instituições, apenas o CAOC, Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da Faculdade de Medicina, continua a produção de sua revista O Bisturi, ainda assim com muitas complicações.
“Acho que a nossa maior dificuldade é a questão do conteúdo e para conseguir cumprir os prazos que a gente tem tentado estruturar melhor ao longo desses últimos anos”, comenta Ivan Nakamae, um dos editores da revista e integrante do CAOC.
Outros fins
A falta de conteúdo foi o que levou o aluno Rafael Pelletti, do Instituto de Biologia, a parar de publicar o RNA Mensageiro. Este era um espaço de expressão das pessoas da Biologia, que não continha notícias.
Apesar de ter apoio do IB para impressão do material, Rafael trabalhava sozinho. “Eu parei porque achei que parou de fazer sentido, visto que estava sozinho, e na última edição, recebi pouquíssimos textos”, conta.
Outro jornal que desapareceu do campus foi o Caos, feito pelos alunos do Cefisma, Centro de Estudos de Física e Matemática. Assim como o RNA Mensageiro, o jornal era aberto à contribuição da comunidade do IF. O periódico tentava se manter mensalmente e trazia notícias, informes das entidades, opiniões dos professores e textos dos alunos.
Entretanto, havia problemas para manter essa periodicidade. “A coisa foi morrendo porque dava um certo trabalho a mais, tinha um problema de alcance e de produção de conteúdo. Não tinha alguém que garantisse que a coisa acontecesse todo mês com essa regularidade”, explica Xavier Júnior, estudante do IF e integrante do Cefisma.
Nem virtualmente
A regularidade é outra questão importante. Depender de outras pessoas para compor a edição e um corpo editorial pequeno, somado às atividades universitárias, atrasam as publicações.
Talvez você esteja pensando: “E os alunos de jornalismo? Eles fazem jornal sem ser dentro da grade obrigatória?” A resposta também é não.
Marcos Hermanson, ex-diretor do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) e estudante de jornalismo, conta que havia um tablóide independente, produzido pelo CALC. O JECA, Jornal dos Estudantes de Comunicações e Artes, era aberto à comunidade ecana. Circulou até 2014 com charges, notícias internas e artigos.
Em 2016 e 2017, as chapas eleitas para o CA tentaram reativar o periódico, mas o conteúdo migrou para outros meios, como as redes sociais.
Neste ano, as produções midiáticas estão paradas. “A universidade ainda carece de produções independentes e veículos em que os estudantes comuniquem-se com eles mesmos”, comentou o futuro jornalista.