A observação de estrelas mantém o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas vivo durante a noite inteira
Por Anny Oliveira
Quando é noite, não tão escuro assim, umas nove, dez, onze, só é possível ouvir grilos pela Cidade Universitária. No máximo, alguns estudantes amontoados em um ponto, esperando o circular. O campus parece morto. Mas lá na Rua do Matão, passando por alguns corredores-escadas-labirintos, existe uma sala onde tudo continua aceso, ligado na madrugada. Trata-se da Estação de Observação Remota do telescópio SOAR.
O telescópio, inaugurado em 2005, fica nos Andes Chilenos, a 2600 metros de altura. Por ter financiado sua construção, o Brasil tem direito a observar 34% das noites por ano. São as melhores imagens do mundo na categoria.
Em 2006, a Estação de Observação Remota foi criada no IAG. Foi uma maneira de ter acesso às imagens do telescópio sem ir até o Chile. Contudo, inicialmente, a sala foi pouco utilizada. Os pesquisadores preferiam ir até ao telescópio pessoalmente ou enviar seus projetos para serem observados pelos especialistas do SOAR no Chile. Os astrônomos queriam aventura, ou comodidade.
Contudo, a partir de 2015, com a falta de verba no departamento, a sala de observação é a única maneira de utilizar o telescópio. Um espaço pequeno, com cinco monitores. Imagens do céu de um lado, programas e códigos do outro. E o skype sempre ligado com os técnicos do telescópio.
É nesse lugar modesto que, em 2016, uma pesquisadora ajudou a comprovar a teoria das ondas gravitacionais de Einstein. A partir de outro telescópio chileno ao qual eles têm acesso, a luz visível do evento pôde ser identificada.
O observador noturno
É também ali que Felipe Navarete, pós-doutorando e atual responsável pela sala, observa a estrela Eta Carinae ao lado de Augusto Damineli. Este, por sua vez, é quase o “dono” da estrela, reconhecido internacionalmente por ter descoberto que ela é, na verdade, duas. “Estamos pela primeira vez observando os minutos finais de uma estrela de alta massa”, conta Felipe.
Quanto a estar na USP durante noites e madrugadas, é preciso “dar seus pulos”. Pedir a comida antes de anoitecer, porque não entra ninguém depois das dez. E, principalmente, estar preparado para um ambiente muito, muito silencioso.
Felipe diz que se sente bastante sozinho. Isto é, se não fossem pelos guardas da noite e, também, pelos morcegos do instituto. “Às vezes, você está andando pelos corredores escuros e o morcego te dá um rasante. É engraçado”.