Uma das piores experiências de leitura é a dos comentários de matérias da grande imprensa na internet. Fico triste e me pergunto: Por que tem gente com tanto ódio? Por que há tanta ignorância? Será que as pessoas não conseguem voltar um degrau para entender as situações de uma maneira mais complexa? Este nosso tempo de polaridades irracionais e intolerância me faz repensar na função do jornalismo.
Quando era aluna da USP e fazia o Jornal do Campus, o ano era de 2006. Confesso a vocês que não consigo me lembrar muito das pautas da época. Esse apagão na memória pode ter a ver com a morte do meu amigo de sala Rafael Azevedo Fortes Alves de forma trágica em outubro do ano anterior. Ele foi esfaqueado enquanto trabalhava na rádio USP por outro colega de sala, não resistiu e morreu.
Rafael era um cara muito à frente do nosso tempo. O feminismo ainda não era uma bandeira, nem o combate à transfobia, mas de alguma maneira ele trazia essas questões para nós. Naquela época, não me lembro dessa chuva raivosa de comentários odiosos por todos os cantos. Certamente nem a morte do Rafa teria sido poupada pelos haters.
Se o Rafa estivesse vivo hoje, ou se de algum lugar ele pudesse ler a última edição do JC, acho que ele ficaria feliz e orgulhoso de vocês, assim como eu me sinto agora. As matérias da quinzena passada têm o mérito de serem muito informativas e até didáticas, e penso que o jornalismo precisa cada vez mais disso.
Daqui a pouco tempo alguns ou muitos de vocês estarão trabalhando na grande imprensa e é provável que as matérias sejam bombardeadas. Vamos lá. Respiremos fundo e continuemos. Nossa arma é a informação. Se precisar, a gente até desenha. Fico na dúvida se é produtivo ou não ler os comentários, mas é importante conhecer a opinião dos que nos criticam, até para saber como dialogar e não ficarmos pregando para convertidos, presos numa bolha quentinha e feliz – mas uma bolha.
Vamos pensar em quais são as bolhas e os muros que nos dividem, e valorizar aqueles que os rompem. Que matéria linda a sobre o Thiago “chavoso”, que acertadamente foi capa do JC. Iluminar histórias como essa podem ajudar a criar empatia, quebrar preconceitos e delicadamente sugerir que tipo de “balbúrdia” incomoda os haters.