Game ensina programação com robôs

Alunos da USP desenvolveram jogo para adolescentes

Por Bruna Arimathea e Matheus Oliveira

Foto: Campus Mobile

Como deixar jovens do ensino médio mais próximos da tecnologia de programação? Um trio de alunos da USP São Carlos contribuiu com a solução criando o Robosquadrão, jogo para celular pensado para ensinar os primeiros passos de programação computacional e lógica aos adolescentes brasileiros. O nome do projeto remete ao esquadrão de robôs encontrado ao longo das fases do game.

Eleazar Braga, Gabriel Simmel e Óliver Becker, do curso de Ciência da Computação, levaram quatro meses para desenvolver o game que exige, dentre outros raciocínios, a criação de um código personalizado para cada ação a ser executada pelo robô.

Nas situações impostas, como metas, combate e administração de danos, o jogador deve programar comandos com dados em uma tela, previamente apresentada antes da atividade principal do game. O jogo pode ser baixado na plataforma Android.

“A nossa motivação veio da preocupação com o que os alunos de ensino médio aprendem nas escolas brasileiras. Pelas notícias e dados que a gente pegou, vimos que nos países como Estados Unidos já ensinavam programação nas escolas para preparar os alunos a esse mercado de trabalho que está cada vez mais tecnológico”, afirma Elieazer Braga, um dos membros da equipe.

O projeto, que surgiu em conjunto com o grupo de extensão Fellowship of the Game, vinculado ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP São Carlos, ganhou notoriedade ao vencer a 7ª edição da Campus Mobile.

Essa competição nacional avalia ideias e soluções para plataformas mobile, e rendeu aos estudantes uma bonificação de 6 mil reais, além de uma via gem ao Vale do Silício na segunda semana de setembro, com todas as despesas pagas pelo Instituto NET Claro Embratel.

Arte: Júlia Vieira

Futuro próximo

Antes do reconhecimento, porém, os alunos trabalharam muito para que o jogo fosse concluído. A preocupação com a função didática guiou o desenvolvimento até etapa presencial da Campus Mobile, em fevereiro deste ano, onde o trio foi avaliado por uma banca e pode avançar na construção do game.

“O fato da inovação tecnológica ser um game é muito gratificante, pois com jogos é possível ensinar de forma lúdica e educativa, de uma forma divertida. Então, ao mesmo tempo que você entende como funciona a programação, você vê o seu progresso com uma batalha de robôs”.

Outras competições estão no radar da equipe do Robosquadrão. Os estudantes esperam agora inscrever o projeto no BIG Festival e SBGames, além de aguardarem a chamada pública da Camp Serrapilheira, todos voltados para desenvolvimentos digitais e plataformas de games.

Em contagem regressiva para a viagem ao Vale do Silício, Elieazer conta que a expectativa é aprender e se inspirar. “É um polo tecnológico e lá a gente espera ver grandes empresas. Vai ser interessante ver como funcionam, o ambiente de trabalho. Também vai ser a primeira vez que a gente sai do Brasil, estamos bem ansiosos”.

Ciência sem glamour

Por trás da premiação do trio de amigos que terão a oportunidade de levar seu trabalho para fora do país, outros milhares de jovens brasileiros continuam produzindo ciência, embora o retorno nem sempre seja positivo. Na tentativa de remediar esse déficit, algumas entidades como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) promovem anualmente premiações que visam estimular o interesse pela área científica.

Desde 1981, o Prêmio Jovem Cientista do CNPq contempla projetos voltados a solução de grandes desafios da sociedade. Para o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Erney de Camargo, que presidiu o CNPq entre 2003 e 2007, a competição, que abrange do ensino médio ao doutorado, “é um aditivo ao interesse dos alunos pela ciência”, ao dar projeção nacional aos trabalhos apresentados.

Embora reconheça a importância de premiações, Camargo adverte que “o importante é estimular a ciência entre o maior número de jovens”, e que “o prêmio é um farol, um atrativo para a ciência, mas o objetivo começa aí, não termina”.

Ele finaliza ressaltando que o fazer ciência, especialmente no Brasil, representa um grande desafio a ser trilhado longe dos holofotes e do glamour. Sobre os recentes cortes promovidos pelo Ministério da Educação, o professor Camargo é taxativo: “o número de bolsas é limitado, mas indica que o país está preocupado com ciência. Se você corta, mostra que o país não se preocupa com isso.”

Especial Edição 500

Estudantes da USP premiados em concursos são destaque no JC

Por Matheus Oliveira

Há exatos treze anos, o Jornal do Campus trazia uma boa notícia aos interessados em pesquisar: um projeto científico de aluno do Instituto de Matemática e Estatística (IME) era contemplado como “melhor artigo de estudante” no prêmio WiMob, conferência internacional sobre computação, redes e comunicações móveis e sem fio. Apesar dos problemas sociais e educacionais da sociedade brasileira, agravados nos últimos anos, pesquisas continuam sendo desenvolvidas e o prêmio, na  15° edição, ainda é entregue anualmente.

JC 313 – Setembro/2006

Na reportagem de 2006 do JC, assinada pelo então aluno de jornalismo Piero Locatelli, o vencedor da conferência, Julian Monteiro, compartilha a satisfação de ter levado sua pesquisa para competir com projetos de todo o mundo em Montreal, no Canadá. Para Monteiro, na época mestrando no IME, mais do que a conquista pessoal, a satisfação foi saber que o prêmio contribuiu para os avanços científicos da USP. Alfredo Goldman, professor que orientou o projeto, concordou na matéria: “mostra que podemos fazer pesquisa de qualidade.”

Nesta edição 500, o Jornal do Campus reporta mais um projeto científico premiado da USP, desta vez realizado por um trio de estudantes de São Carlos. Contudo há, pelo menos, uma diferença inevitável nesta pauta necessariamente recorrente: estamos tratando de aplicativos para celular, são os novos tempos.

Só não mudou a dificuldade em fazer ciência num país em que o ministro da Educação apresenta bombons para explicar cortes de gastos, e faz vídeo dançando com guarda-chuva para desmentir pretensas notícias falsas.