Presença da unidade ainda tem falta de um diálogo com a região
Por Pedro Ezequiel
“Uns conhecidos me perguntam se estudo aqui com bolsa, quanto é que pago. Não têm noção que é público. Isso acontece porque falta retorno da universidade”. Quem fala é Matheus Santana, o “Oreia”. Morador de Poá, cidade da zona leste, ele se refere a relação entre comunidades e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH).
A ideia de ter mais um campus da USP na capital veio em 2001, quando o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) fez um estudo sobre o acesso ao ensino público. Em 27 de fevereiro de 2005, a Each foi inaugurada.
Alguns episódios marcaram a debutante. Em 2009, entrou em funcionamento a estação de trem “USP Leste”, da Linha 12. Só que quem descia e ia pela Each eram os alunos. Os moradores do Keralux pela Rua Doutor Assis Ribeiro. Até hoje, eles têm que andar numa calçada que mal cabem duas pessoas. Em certos momentos, têm que descer e caminhar na faixa de corredor de ônibus por causa de árvores e postes.
Francineide morou no Keralux em 2005, quando a Each nasceu. Ela não lembra muito da época, mas agora que voltou, vê mudanças. “A USP influencia e ajuda. Mas a gente que quer fazer uma caminhada, vai no Parque Tietê. Não pode ir ali. Não sei se eles consideram nós como ‘inadequados’. Merecíamos um pouco mais de crédito, sabe?”, afirmou ela.
A EACH foi imprópria em 2014. A unidade foi fechada por decisão judicial. O motivo: a Companhia de Tecnologia de Saneamento de Saneamento Ambiental (Cetesb) constatou o vazamento de gás metano no terreno. As aulas foram realocadas para outros espaços. Depois de sete meses, a Each foi aberta de novo.
Agora com tudo regularizado até 2025, o desejo de Matheus é:“ver aqui que nem quebrada, se vestir igual bailão, Mizuno no pé”. O aluno de Licenciatura em Ciências da Natureza percebe que ali está mudando. “Aqui sou pouco em número. Mas tem gente daqui que é parecido: tem que trampar, se manter enquanto estuda e é da quebrada”, afirma o “Oreia”
Michele Vieira mora no Keralux e trabalha em uma lanchonete da Each. No sábado, participa de um grupo de teatro da unidade, o “Espalhafatos”. Vivendo diariamente ali, ela nota uma falta. “Existe muita gente aqui do bairro que não sabe quais cursos são oferecidos, que a Each é uma universidade pública que pode ser usadas por todos”. Ela cobra maior presença no dia a dia, com palestras e projetos nas escolas do bairro para mostrar que eles podem usufruir do local.
Sobre a circulação de pessoas, foram feitas tentativas de contato com a Prefeitura e a direção da Each, mas sem sucesso. Pela apuração do JC, a Guarda Universitária segue alguns procedimentos definidos. É permitida a entrada de pessoas que não sejam estudantes “desde que tenham documento e digam o que vão fazer”.