Por Tainah Ramos
São tempos de ódio. As doenças físicas são usadas como bode expiatório para uma sociedade já doente ‒ uma sociedade cheia de ódio. Em tempos de coronavírus, o ar de desespero paira, buscam-se culpados: liberaram a xenofobia explícita contra asiáticos.
A Covid-19 não é o único problema perante uma crise de saúde pública. O presidente Jair Bolsonaro nutriu os movimentos autoritários contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, contrariando também todas as medidas de prevenção colocadas pelo Ministério da Saúde, como evitar grandes aglomerações. No show de horrores do Planalto, o ódio segue como agenda principal, os ataques à nossa profissão continuam, em especial, os misóginos.
Em um cenário tão conturbado, parece um dilema escolher as pautas do Jornal do Campus. Primeiro, porque ser “do Campus” não pode tornar estas páginas alienadas de todo um contexto político, histórico e social. Nas escolhas editoriais, deve-se prezar pelo interesse público e pelo que é necessário que o nosso leitor saiba. Desse modo, as pautas sobre coronavírus, tal como o vírus, ultrapassaram os muros da Universidade, inclusive esse é o motivo desta edição se apresentar apenas no formato online ‒ talvez a única grande diferença entre as edições anteriores.
Parece que o JC está sempre batendo nas mesmas teclas. Por quê? Porque os problemas são de longo prazo e ainda falta muito para solucioná-los, como a falta de professores, as dificuldades de permanência estudantil e o avanço do desmonte da educação superior pública e gratuita como projeto.
Quando uma nova turma inicia a produção do jornal, é comum que haja expectativa de revolução e quebra de padrões, mas os temas da comunidade interna são velhos conhecidos. Fraudes nas cotas de novo? Já esteve nessas páginas, mas não ser silenciado tem a ver com nunca parar de falar até que seja ouvido.
Entre as personagens de destaque, está a brilhante equipe de pesquisadoras que, apesar da escassez de recursos e do pouco caso governamental com a produção científica brasileira, conseguiram sequenciar o genoma da Covid-19. Na editoria de Entrevista, Ester Sabino conta sua trajetória desde os tempos em que ocupava a cadeira das salas de aula. Ela, que viveu os anos da ditadura e o processo de redemocratização, traz à luz a importância de defendermos a ciência no Brasil e a universidade pública.
O ano está apenas começando. Para os tempos de ódio, o jornalismo de interesse público. Em alto e bom som, sem medo de continuar levantando a voz, sem medo de falar de coisas comuns, que ainda doem no cotidiano. Este é o jornalismo de pessoas comuns para pessoas comuns ‒ em defesa das instituições democráticas, da ciência nacional, do ensino público e da saúde universal.