O medo do reencontro: vivendo entre o limiar do alívio e do receio

 

por Anderson Lima

Foto: Pixabay

 

Recentemente, no Twitter, muitas contas compartilharam um meme (vídeo, imagem, frase, ideia ou música que se espalha entre vários usuários rapidamente, alcançando muita popularidade) relacionado ao alívio das coisas estarem rumando para um futuro mais “normal”, em que veremos as pessoas da nossa faculdade, trabalho e família.

No entanto, nesse meme, junto ao sentimento de libertação, também havia a citação sobre o medo de reencontrar essas mesmas pessoas, quase como um receio sobre o futuro. Devido a seu nome complicado, talvez muitas pessoas não saibam o significado do termo teleofobia, caracterizado como o medo do futuro, ou uma insegurança relacionada ao amanhã.

A teleofobia ocorre quando essa preocupação com o amanhã assume proporções elevadas, principalmente, por causa da ansiedade. Em tempos incertos, tal como um futuro pós-pandemia, apesar de tentarmos, fica complicado fazer planejamentos ambiciosos. Independente disso, a necessidade de nos prepararmos para imprevistos continua existindo, o que deixa qualquer um preocupado.

E o medo de reencontrar pessoas que faziam parte de sua rotina antigamente? Ela também existe, em menor ou maior grau. Talvez a palavra medo seja muito intensa para o que está sendo descrito aqui, mas existe um receio das coisas não serem mais como antes em termos de proximidade ou relacionamento. Será que determinada pessoa vai me considerar da mesma forma que me considerava antes desse distanciamento forçado?

O caro leitor pode achar que essa preocupação é mínima perto das quase 600 mil mortes vistas no Brasil, e de fato é. No entanto, esses óbitos ajudam a intensificar ainda mais a preocupação de como iremos viver o normal novamente. A morte, seja de pessoas próximas ou não, pode alterar nossa percepção, e até nossas crenças, e isso oferece uma nova chance de reconsiderar como vivemos.

Ao mesmo tempo que não vemos a hora de reencontrar aquele rosto amigo e poder trocar palavras como fazíamos antigamente, é perceptível que ambos não seremos mais os mesmos e isso traz dúvida e insegurança. É uma oportunidade de fazer uma nova história, de recomeçar, e aceitar que nada será como antes. Você não vai precisar reconquistar a confiança já obtida, mas o primeiro “oi” talvez valha mais do que um cumprimento muitas vezes considerado banal previamente.

Em um de seus poemas, Drummond disse que o tempo foi cortado para que a esperança fosse industrializada. Esse recorte ajuda a criar uma ilusão de segurança, um falso sentimento de controle. A pandemia veio e removeu toda essa noção de tempo preestabelecida. Apesar das horas continuarem a correr como sempre correram, parece que os dias pandêmicos demoraram para passar ou, repentinamente, passaram mais rápido do que deveriam. Estamos há quase quinhentos dias em casa, mas parece que são mais de mil.

Entretanto, estamos no Brasil, e sabemos que nem todos de fato respeitaram o distanciamento necessário. Para essas pessoas, o texto escrito aqui pode não fazer tanto sentido, pois não haverá alívio nem receio ao reencontrar alguém no futuro. Os medos e incertezas serão outros, talvez acrescentados ao sentimento de culpa, por não ter feito o que deveria em um dos momentos mais tristes de nossa história.

Não… esse texto vai para você, que não vê a hora de poder abraçar a pessoa que gosta novamente, mas que, ao mesmo tempo, tem receio de como essa nova etapa em sua vida social vai funcionar.

O passado já aconteceu e está seguro em nossas mentes e corações. O receio pelo futuro é apenas o medo do desconhecido. A única coisa que podemos ter controle é sobre nós mesmos, sendo assim, por que não nos prepararmos da melhor maneira possível para esses reencontros? No final das contas, passado, presente e futuro são todos a mesma coisa e como também disse o mestre Drummond: “Não há tempo consumido nem tempo a economizar. O tempo é todo vestido de amor e tempo de amar. O meu tempo e o teu, amada, transcendem qualquer medida. Além do amor, não há nada, amar é o sumo da vida.”

Apesar do receio sobre o sonhado e próximo reencontro, apenas sei que amaremos cada segundo desses momentos, pois começo a entender o significado de sentir nostalgia pelo futuro, já que estou com saudades do que ainda viveremos.