É hora de experimentar


por Clarissa Lévy
Foto: Arquivo Pessoal

Começo minha primeira análise sobre o JC agradecendo sinceramente o convite da turma responsável por tocar o jornal nesse estranho primeiro semestre de 2022. Além de ser uma honra (enorme!) ter um pretexto para me debruçar sobre reportagens produzidas por estudantes, é uma delícia refletir sobre a produção jornalística junto com quem ainda está na universidade. Não muito tempo atrás era eu quem estava correndo no fechamento do jornal laboratório da UFSC, onde estudei. Bem por isso, espero contribuir nessa e nas próximas edições com o que tenho: o olhar de alguém que também está aprendendo a fazer jornalismo, todos os dias.

Dito isso, bora para os palpites. A última edição do JC foca em informar os leitores sobre alguns aspectos da volta presencial da universidade. Acerta ao detalhar o fechamento do refeitório da ESALQ, com entrevistas que mostram o contexto do problema. Vai fundo em diversos aspectos do acesso à alimentação no campus, falando das questões políticas, administrativas e dos impactos disso no dia a dia des alunes. Acerta ao falar do contrato da empresa, da postura da administração e ao ouvir representantes estudantis — o que faz com que depois da reportagem, sobrem poucas dúvidas na cabeça do leitor. Nesse sentido, seria interessante seguir acompanhando a pauta e noticiar os desdobramentos: foram de fato tomadas as medidas prometidas pela administração universitária? Quais os resultados? Reportar soluções também é um caminho interessante ao jornalismo de interesse público.

Ainda sobre a mesma matéria, o conteúdo bem completo abre espaço para outras questões, várias das quais voltaram a aparecer durante a leitura de outras reportagens da edição. Como foi pensado o formato para cada matéria? Por que foi escolhido o formato de vídeo para uma matéria e somente texto para outra? Nos conteúdos com dados, foi pensada uma representação visual? E sobre formatos mistos, mais próximos da linguagem online, com vídeos, ilustrações e infografias: pode ser um horizonte produzir assim? Como são as vontades da turma? 

Imagino que para um jornal com a tradição de sair impresso, essas sejam perguntas que podem demorar um tempo para serem respondidas. Normal. Mas considerando que a realidade agora é uma edição totalmente online, pensar nos formatos específicos para visualização na internet é necessário. E, mais do que uma necessidade, pode ser uma potência. A vivência de produzir um jornal do campus pode ser uma virar um período de experimentação, de testes, de criação. E isso não precisa significar um volume maior de trabalho ou caracteres. Às vezes, um texto noticioso curto pode funcionar melhor em um carrossel de imagens, que pode aparecer adaptado no site de forma visual e cair bem em uma rede social. Uma reportagem longa com várias fontes pode ganhar mais imagens, quebras de parágrafo e aspas destaque que atraiam mais o leitor para seguir rolando o dedo pelo celular.

Essa provocação sobre o formato dos materiais do JC é também um questionamento que toca no conteúdo: será que pode ser uma opção sair para apurar já pensando em um novo formato de publicação? Na escolha das fontes, já pensar o que pode ser aproveitado para redes? O que pode virar uma quebra de texto? Acredito que acrescentar umas perguntas a mais no processo todo da reportagem pode semear algumas soluções originais – e divertidas para a equipe.

Um último adendo, rápido, mas que não poderia passar é sobre a contextualização das pessoas entrevistadas. Nesta edição, a entrevista com o novo reitor empossado veio sem detalhes sobre sua trajetória, grupo político e histórico de atuação na estrutura universitária. Antes de ler o que a autoridade projeta para sua gestão, seria interessante saber de onde veio, com quem se alia e quais pautas defendeu na prática e no passado. Perfilar autoridades da USP com independência é uma das potências específicas do JC. E que pode diferenciar a cobertura do jornal.

No mais, bons trabalhos e bora seguir com ânimo pois estamos todes em um momento que o jornalismo pede empolgação e novidade. Saudações e até!