Museu do Ipiranga reabre em São Paulo com novas exposições e ambiente reformado

Até 6 de novembro, o público poderá visitar o edifício histórico gratuitamente

por Mariana Carneiro

Foto: Carolina Borin/JC

Após nove anos fechado, o Museu do Ipiranga reabriu ao público no dia 7 de setembro, em tempo das celebrações do bicentenário da independência do Brasil. O edifício histórico passou por reformas estruturais e teve sua área expositiva duplicada, o que possibilitou a implementação de novas mostras, salas educativas e recursos que viabilizam a acessibilidade, como rampas, elevadores e mapas táteis.

Na data da reinauguração, os ingressos foram reservados a 200 estudantes de escolas públicas, trabalhadores da obra e seus familiares. Desde 8 de setembro, o espaço está aberto ao público geral. Nos próximos dois meses — até o dia 6 de novembro —, a visitação será gratuita, mediante agendamento prévio na plataforma Sympla. Um novo lote de ingressos é liberado a cada sexta-feira, às 10h.

Restauro e modernização

Fundado em 1895, o Museu do Ipiranga foi idealizado ainda durante o período imperial, quando buscava-se celebrar a emancipação política do país com a construção de um edifício-monumento. A instituição foi incorporada à USP em 1963, e tombada pelo Iphan em 1998. É considerado o mais antigo museu público da cidade de São Paulo.

Por decisão da universidade, o espaço foi fechado para reformas em agosto de 2013, devido a problemas estruturais que ameaçavam a segurança de seus visitantes e funcionários — existiam infiltrações nos telhados, rachaduras nas paredes e forros deteriorados. “Como muitos edifícios públicos e tombados, o museu não previa uma verba suficiente para realizar manutenções de rotina. Por isso, foi necessária uma intervenção maior”, conta a professora Rosaria Ono, diretora da instituição, em entrevista ao Jornal do Campus

Longas etapas preparatórias antecederam a remodelação do museu. Após uma avaliação das fraquezas do ambiente, um concurso público de arquitetura foi promovido para definir um projeto de reforma. A obra em si teve início há apenas três anos, em outubro de 2019, e foi finalizada em agosto de 2022. 

Aportes financeiros do governo estadual e da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp) cobriram parte dos custos, no entanto, a maior fatia do orçamento para a reforma — cerca de R$ 235 milhões — veio da iniciativa privada, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Alguns dos contribuintes foram o Instituto Itaú Cultural, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Grupo EDP, do ramo elétrico, que investiram R$ 12 milhões cada.

A organização institucional do Museu do Ipiranga também sofreu mudanças. Anteriormente, o edifício-monumento também comportava a diretoria, a administração e o acervo do museu, o que acabava por reduzir a área de acesso ao público, limitada a 12 salas. “Decidimos esvaziar o edifício para fazer uma reforma adequada. Para isso, foi preciso realocar as pessoas que trabalhavam lá e as peças do acervo, também”, conta Rosaria. “Os funcionários foram distribuídos entre sete imóveis, todos perto do Ipiranga, e nosso acervo foi catalogado, ordenado e arquivado em cinco dessas propriedades”.

Exposições

O novo Museu do Ipiranga conta com 48 salas abertas à visitação pública. Atualmente, há 11 diferentes exposições, que retratam a história brasileira e paulista, além de mostras dedicadas à memória do próprio museu. A instituição busca representar períodos históricos através da cultura material. Mais de três mil itens ocupam o acervo do museu, entre eles, pinturas, esculturas, documentos, cartas, móveis, moedas e fotografias, todos produzidos e utilizados pela sociedade brasileira desde a primeira metade do século 20. 

Foto: Carolina Borin/JC

“São objetos cotidianos, que não necessariamente estariam em museus tradicionais. Temos objetos da classe dominante do período monárquico, por exemplo, mas nossas peças contemplam também a sociedade indígena e os operários, que têm significativa importância na história do país”, reflete Rosaria.

Tombada desde 1938, a mostra Uma História do Brasil é destaque no edifício-monumento. Ela abrange três diferentes espaços no museu: o salão de entrada, as escadarias e, no segundo andar, o ambiente conhecido como Hall Nobre. Ao percorrer os cômodos, o público pode conferir esculturas e pinturas que recontam a formação do Brasil — entre elas, a célebre obra Independência ou Morte, de Pedro Américo. O quadro é a mais famosa representação do grito de independência exclamado por D. Pedro I às margens do Ipiranga.

As outras 10 exposições, totalmente novas, foram baseadas em trabalhos de pesquisa realizados pela curadoria do museu, formada em sua maioria por professores da USP. 

Em Passados Imaginados, o público poderá visualizar pinturas bastante conhecidas que retratam o passado brasileiro, além de uma maquete da cidade de São Paulo no período da construção do museu, há cerca de 120 anos. Já a mostra Casas e Coisas aborda a vida privada dos brasileiros através da exibição de objetos do espaço doméstico, assim como a mostra Conservar: Brinquedos, uma extensa coleção de casinhas, carrinhos e bonecas pertencentes a crianças do século 20.

Caráter educacional 

A fim de melhor atender seu principal público — estudantes do ensino fundamental e médio, que visitam o museu em excursões escolares ou com a família  —, o Museu do Ipiranga possui uma equipe de educadores, que colaboram diretamente com a curadoria das mostras. “O objetivo é aproximar o público jovem do nosso acervo, e ajudá-los a compreender as exposições”, aponta Rosaria. 

”Há também vários recursos didáticos para atender pessoas com deficiências físicas e intelectuais”, continua a diretora. ”Nós introduzimos ao museu algumas ferramentas interativas — QR codes, peças para ouvir, tocar, entre outros”.

Mapas táteis reproduzem a pintura Independência ou morte! com elevações e texturas para pessoas com deficiências visuais. Foto: Carolina Borin/JC

A recepção aos grupos escolares é outra função atribuída à equipe de educadores do museu. Ela acontece em uma nova sala chamada “educateca”, que conta com recursos didáticos para introduzir a temática das mostras antes dos alunos entrarem na área expositiva. 

Reinauguração 

Antes da reabertura, o museu recebeu autoridades e patrocinadores para uma solenidade no dia 6 de setembro. O evento reuniu políticos paulistas, como o ex-governador João Doria e o atual prefeito da capital, Ricardo Nunes, e também representantes do governo federal:  estiveram presentes Alberto Gomes de Brito, ministro do turismo, e Hélio Ferraz de Oliveira, secretário especial de cultura. 

O presidente Jair Bolsonaro não compareceu à cerimônia. Conforme medida imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral, candidatos ao Executivo não podem inaugurar obras públicas às vésperas de eleições, sob pena de cassação da candidatura. Além disso, Bolsonaro já teceu duras críticas à Lei Federal de Incentivo à Cultura, principal meio de captação de recursos para a reforma do Museu do Ipiranga.

Ao longo da semana do feriado da Independência, o espaço recebeu diversos artistas para shows  grafiteiros em comemoração à reabertura. Entre 7 e 11 de setembro, apresentaram-se no Parque da Independência a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Duda Beat, Criolo, Gaby Amarantos, Juliette, Fafá de Belém e o maestro João Carlos Martins, entre outros. 
Um show de luzes também marcou a reinauguração. Na noite do dia 7 de setembro, 200 drones foram utilizados para iluminar o céu do Ipiranga com dez figuras diferentes. Os aparelhos se movimentaram a fim de formar a imagem da bandeira do Brasil, de um globo terrestre, de uma sambista, da obra Abaporu, por Tarsila do Amaral, e até mesmo da fachada do Museu, seguida pela data de sua reabertura.