Número de gestantes com mais de 35 anos tem aumentado, mas gravidez nessa faixa etária requer cuidados
por Mariana Carneiro
Foto: Senivpetro/Freepik
“Nascer, crescer, se reproduzir e morrer”: o antigo clichê sobre o ciclo de vida humano sofreu alterações com o passar das décadas. Avanços na tecnologia e mudanças socioculturais permitiram o surgimento de novas dinâmicas de vida, incluindo algumas em que a reprodução — e, em especial, a maternidade — não é motivo de pressa.
O recente anúncio da gravidez de Cláudia Raia, atriz de 55 anos que espera seu terceiro filho, acendeu uma discussão sobre gestações tardias (aquelas que ocorrem na faixa etária dos 35 anos ou mais). Segundo dados do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde, o adiamento da maternidade tem se tornado cada vez mais comum no Brasil: casos de mulheres que optam por engravidar após os 35 anos aumentaram em 65% nas últimas duas décadas, totalizando cerca de 11% dos partos realizados no país.
Esse cenário resulta de fatores diversos, como a inserção da mulher no mercado de trabalho, o desenvolvimento da medicina reprodutiva, a ampliação do acesso a métodos contraceptivos e o questionamento da imposição social que leva à maternidade compulsória. No entanto, a fertilidade feminina diminui consideravelmente a partir dos 35 anos, o que implica em uma maior dificuldade para engravidar e na necessidade de um acompanhamento pré-natal detalhado.
Em entrevista ao JC, Pedro Augusto Araújo Monteleone, coordenador do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, explica que, conforme a idade da mulher avança, suas células reprodutivas se tornam menos eficazes por uma razão congênita. “O corpo feminino já nasce com um número limitado de gametas, pré-formados durante o desenvolvimento embrionário. A partir da puberdade, essas células — chamadas ovogônias — iniciam sua fase de maturação e, uma por vez, formam os óvulos”, diz.
“Quanto maior for o tempo de espera para uma célula maturar, a qualidade do gameta diminui, e se torna mais difícil engravidar”, conta o doutor Monteleone. Além disso, com o eventual fim da reserva de células ovogônias, a mulher passa por um último ciclo menstrual — conhecido como menopausa — e seu período fértil se encerra. Tipicamente, esse processo ocorre entre os 45 e 55 anos de idade. O corpo masculino, por sua vez, produz gametas diariamente da puberdade até o fim da vida, o que explica a maior frequência de casos de paternidade tardia.
Mesmo com as adversidades, há uma série de técnicas que podem auxiliar mulheres na faixa dos 35, 40 ou até 50 anos a gestar. O congelamento de óvulos, por exemplo, é uma das opções mais procuradas por aquelas que pretendem postergar a maternidade. Através de injeções hormonais, o tratamento acelera a maturação dos gametas e estimula o organismo a liberar mais de um óvulo por ciclo menstrual. Essas células, então, são coletadas cirurgicamente e armazenadas em uma câmara fria. “Uma vez descongelados, os óvulos terão o desempenho que eles teriam na idade em que a mulher os congelou”, expõe o médico. Para aumentar as chances de preservação da fertilidade, é recomendado que o procedimento seja realizado até os 35 anos de idade.
A fertilização in vitro, conhecida também pela sigla FIV, é outra técnica de reprodução assistida que pode auxiliar na concepção tardia. Ela envolve a fecundação do óvulo com o espermatozóide em laboratório, e a posterior inserção do embrião no útero.
“Se uma paciente não obteve sucesso com os tratamentos, a técnica indicada pode ser a fecundação com o óvulo de uma doadora”, ressalta Monteleone. “Porém, há uma resistência muito grande em relação a esse tipo de procedimento, já que o DNA do bebê não será o mesmo da gestante. Existe o receio de que a criança não se pareça com a mãe, mas isso pode ser resolvido na escolha de uma doadora com características físicas semelhantes àquelas da mulher que receberá o óvulo”.
Cuidados pré-natais
Mulheres grávidas tardiamente estão mais sujeitas a desenvolver diabete e pressão alta gestacionais, segundo estudos. Para evitar complicações, é necessário o acompanhamento médico frequente, uma vez que as questões de saúde da gestante podem afetar também o feto. “É uma gravidez com riscos maiores, que exige um segmento pré-natal mais rígido para diminuir a incidência de prematuridade, e os riscos de sequelas neonatais no berçário”, finaliza o médico.