Hora de recomeçar

Para além do retorno à vida presencial, 2022 marca um recomeço na política

por Victória Pacheco

Foto: Caroline Kellen/JC

Se há uma palavra que bem poderia definir o ano de 2022, esta palavra é recomeço. Não é novidade para ninguém que, ao longo dos últimos meses, pudemos, finalmente, retomar a vida presencial, após dois longos anos de isolamento e reclusão. Muitos de nós tivemos a oportunidade de caminhar pelo campus pela primeira vez e de nos encontrar frente a frente com colegas que, até então, estavam confinados às telas das salas virtuais. Passamos a vivenciar a experiência universitária em toda sua plenitude. 

O que não significa que este foi um ano fácil: pudemos relembrar que a vida fora do conforto de um lar traz percalços, muitos dos quais ficaram esquecidos durante a pandemia, quando tínhamos preocupações mais alarmantes. O longo trajeto até a universidade todas as manhãs, as filas no circular e nos bandejões, o difícil malabarismo entre compromissos presenciais. Tudo isso voltou a fazer parte de nossa rotina diária. 

Mas, caro leitor, não se preocupe: este editorial não versará sobre o surrado tema do retorno presencial. Falaremos, aqui, de recomeços. Recomeços enquanto indivíduos e enquanto nação. Afinal, 2022 permitiu que reinventássemos a nós mesmos. Saímos da pandemia sujeitos diferentes, transformados pela angústia, pelo medo e, também, pela esperança. Adquirimos uma nova postura perante a própria existência e reinventamos nossa relação com os outros. Passamos a valorizar os momentos com aqueles que amamos, pois fomos brutalmente lembrados da finitude da vida.

Para além disso, 2022 significou uma possibilidade de renovação – tão ansiada e necessária – para o Brasil. A derrota de Jair Bolsonaro nas urnas foi um claro sinal de que o país, ou ao menos grande parte dele, anseia por mudança. Esperamos que o novo governo, que tomará posse em menos de um mês, recomece o jogo democrático, fortalecendo as instituições e concedendo o devido protagonismo à ciência, à educação, à saúde e à cultura. Ansiamos, ainda, por mudanças na política ambiental do país, que, nos últimos quatro anos, deu sinal verde para a desmatação e o garimpo ilegal e largou à própria sorte os povos originários. 

Queremos a reconstrução dos órgãos de fiscalização ambiental, covardemente deixados em escombros pelo governo Bolsonaro. Queremos que os cientistas brasileiros sejam respeitados e que não tenham suas bolsas de pesquisa cortadas da noite para o dia. Queremos que as camadas mais pobres da população sejam tratadas com dignidade, e que nunca um governante seja insensível ao ponto de negar seu sofrimento, dizendo que “não existe fome para valer no Brasil”. 

Desejamos, acima de tudo, que o Brasil volte a ser um país de respeito. Cansamos de ser um circo, motivo de riso no cenário internacional, em cujo picadeiro se encontram ministros de Estado ridiculamente despreparados e um presidente histriônico, que mal pode levar a si próprio a sério. O ano vindouro trará possibilidades imperdíveis de mudança. É hora de o Brasil voltar a demonstrar previsibilidade, credibilidade e estabilidades às outras nações. É hora de recomeçar.