Vizinhas, as instituições compartilham mais do que a localização e contribuem juntas para a ciência brasileira
por Laura Guedes
Bandeira localizada no pátio do Instituto Butantan. Foto: Maria Carolina Milaré/JC
Em 2009, o Instituto Butantan tornou-se uma entidade associada à USP. Desde então, a relação entre duas das instituições de maior renome científico da América Latina rendeu frutos em pesquisa, ensino e extensão de serviços à comunidade. Para além da proximidade com o campus da Cidade Universitária, a colaboração se estende por programas de pós-graduação e teve um importante papel durante a pandemia de covid-19.
Antes da associação, vários pesquisadores do Instituto Butantan já participavam de programas de pós-graduação em unidades da USP, como o Instituto de Biociências, o Instituto de Química, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Ciências Biomédicas. Com a parceria, aumentou o intercâmbio científico entre as unidades e o Butantan foi co-criador, junto com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Programa Interunidades de Biotecnologia.
Raphael Pavani, doutor em Ciências Biológicas, foi premiado com o Prêmio Tese Destaque USP como uma das melhores teses de doutorado defendidas na USP no biênio 2019/2020, na categoria Ciências Biológicas, com uma pesquisa feita nos laboratórios do Instituto Butantan e orientada pela pesquisadora científica e diretora do Laboratório de Ciclo Celular do Butantan Maria Carolina Sabbaga. O autor da tese “Análise funcional do complexo Replication Protein A em tripanossomatídeos e seu envolvimento com DNA telomérico” falou ao JC sobre o feito: “Ver esse reconhecimento do Instituto Butantan por parte da USP valoriza a colaboração, mostra que essa parceria funciona e vem funcionando”.
“Minha orientadora tinha muitos contatos no Departamento de Parasitologia da USP, o que tornava colaborações muito fáceis para a gente, você só ultrapassa um portão e já está lá”, destaca Pavani. A Dra. Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Instituto Butantan, afirma que “a associação científica entre Butantã e USP é duradoura, promissora e sempre gerou muitos frutos”.
Mas se engana quem pensa que o Instituto Butantan foi inaugurado junto com a USP. Ele foi criado pelo governo de São Paulo para combater uma epidemia de peste bubônica que se alastrou no porto de Santos em 1899, sendo reconhecido como instituição autônoma em 1901, 33 anos antes da Universidade. E foi em outra emergência sanitária que a instituição ganhou os holofotes mais uma vez. Durante a pandemia do coronavírus, o Butantan trabalhou ativamente na produção de testes, estudos e vacinas.
A relação com a USP se fez presente também neste contexto emergencial. O Centro de Genômica Funcional Esalq/Cena realizou 50 mil testes PCR de covid-19 e sequenciou mais de 20 mil amostras para identificação de variantes do coronavírus. O esforço envolveu uma equipe de 30 pessoas, entre estudantes de graduação, pós-graduação, funcionários e docentes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, unidades da USP em Piracicaba. O projeto integrou a rede de diagnóstico coordenada pelo Instituto Butantan no período da pandemia.
Além disso, o Hemocentro de Ribeirão Preto, centro de pesquisa vinculado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), ficou responsável pela parte inicial dos estudos para o desenvolvimento da ButanVac, nova vacina do Butantan contra a Covid-19, que será inteiramente produzida com insumos nacionais.
“Às vezes, existem equipamentos ou expertises que só tem na USP ou só no Instituto Butantan, então juntar os dois forma uma instituição muito sólida de pesquisa e conhecimento”, aponta o doutor em Ciências Biológicas. “Valorizar instituições como estas significa entender que ciência e tecnologia são propulsores de progresso. Desenvolver tecnologias próprias e capacitar pessoas, sem dúvida, muda o status das instituições e das nações”, reforça a Dra. Ana Marisa.
Recentemente, em junho, o Butantan, a FMRP-USP e o hemocentro repetiram a parceria, contando também com a Faculdade de Medicina (FMUSP). Trata-se do Programa de Terapia Celular, que possui o objetivo de fornecer um tratamento inovador e de alto custo contra o câncer no Sistema Único de Saúde (SUS). Por envolver alta tecnologia e um preço elevado, em torno de US$ 500 mil por aplicação, a técnica é dependente de insumos importados. Sua implantação no país pode trazer a autossuficiência necessária para torná-lo viável em todo sistema público.