Inteligência artificial ajuda no combate à fome

Pesquisadores da USP defendem uso da IA para reduzir desperdícios e conectar oferta e demanda de alimentos

por Erick Lins

33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar. Foto: Rafael Canetti/JC

Uma constatação contraditória é a quantidade de alimento produzido em solo nacional, capaz de alimentar cerca de 1,6 bilhão de pessoas, sendo que aproximadamente 33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar. Tal circunstância evidencia a completa desigualdade entre alta produção e a insegurança alimentar no país.

“Nada justifica um país como o Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo e com riqueza territorial e agrícola que possui, podendo plantar ano inteiro se deparar com gente passando fome ou que não poder fazer as três refeições diárias”, afirma Margarida Kunsch, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e coordenadora do eixo temático de comunicação e difusão científica do programa Combate à Fome: estratégias e políticas públicas para a realização do direito humano à alimentação adequada

Pesquisadores da USP propõem que a Inteligência Artificial (IA) seja utilizada como ferramenta para reduzir essa contradição. Antonio Mauro Saraiva, professor do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), explica o papel das IAs no enfrentamento ao problema: “O combate à fome envolve inúmeras facetas, como produção, acesso, consumo, e diferentes atores da sociedade. Portanto, é um problema complexo, com muitos dados e de origens diferentes. A IA pode auxiliar a lidar com essa massa de dados de maneira mais efetiva, mais automatizada e auxiliando na tomada de decisão com seus algoritmos de análise”, afirma o docente, que tem como parceiro de pesquisa o professor Alexandre Delbem, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC-USP).

“Trata-se de um tema complexo e abrangente que envolve diversas áreas do conhecimento e exige uma expertise multidisciplinar dos pesquisadores que atuam em diferentes unidades da USP.”

Margarida Kunsch, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP)

Por enquanto, trata-se de um potencial ainda não concretizado. Mas, em tese, as IAs poderiam atuar na melhoria do aproveitamento da distribuição de alimentos excedentes produzidos e direcioná-los, por exemplo, para localidades com maior necessidade. “Ela pode ajudar a evidenciar os gargalos, e a fazer o casamento entre oferta e demanda, identificar rotas mais curtas para a distribuição.” explicou Antonio Saraiva. O professor também ressalta que outras tecnologias podem ser utilizadas, aliadas às IAs, para colaborar com a questão do combate à fome. “A ciência de dados, por exemplo, é importante na gestão dos dados dessas diversas variáveis, diferentes fontes, bem como técnicas de visualização que facilitam o entendimento dos dados e das análises.”

Com os avanços na captação de dados utilizado pelas IAs, a elaboração de resoluções pode se tornar menos complexa e mais efetiva para enfrentar a insegurança alimentar. “Ela [IA] permite lidar com muitos dados e evidenciar novas relações entre eles, de modo a trazer um melhor entendimento do problema e indicar possíveis soluções que atendam a vários critérios.”, afirma Saraiva.

O professor ainda explica como o Brasil poderia ser pioneiro erradicando a fome, devido à capacidade de produção nacional.  “Uma combinação de políticas de incentivo à produção, de distribuição de renda, de educação, e de compras públicas pode dar as condições para erradicar a fome.”