Muito além da universidade: estudantes da USP realizam oficina sobre educação ambiental em escola pública

Evento na escola Professor Rodrigues Alves teve como foco discutir os problemas ambientais da cidade de São Paulo para construção do Plano Municipal de Educação Ambiental (PMEA) 

por Damaris Lopes e Mateus Cerqueira

Estudantes da modalidade EJA durante oficina sobre educação ambiental. Foto: Letícia Naome/JC

Na noite de 19 de junho, os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) realizaram na Escola Estadual Professor Rodrigues Alves uma oficina sobre o Plano Municipal de Educação Ambiental (PMEA). O evento foi encabeçado por mais de 30 participantes, entre monitores, estudantes de diferentes cursos da USP e pela Profa Dra. Thaís Brianezi, docente à frente do curso de Educomunicação (Educom) na Escola de Comunicações e Artes (ECA).

A oficina contou com a assistência da direção da escola e com a participação de aproximadamente de 100 estudantes da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O PMEA pode ser entendido como uma política pública participativa em construção, sob a responsabilidade da Prefeitura de São Paulo, produzido a partir do relato dos paulistanos acerca dos principais problemas enfrentados no dia a dia – como alagamentos, descarte incorreto de lixo, poluição do ar, etc – bem como busca maneiras de prevenir tais problemas.

Para Miguel Bortoletto Giansante, gestor público e integrante da equipe da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (UMAPAZ) da cidade de São Paulo, oficinas como essa são muito importantes para a construção do plano. 

“Temos atualmente o desafio de unir diferentes setores da sociedade para construção do PMEA de forma democrática, e eventos como esse dentro da escola – ambiente com diversas trajetórias e vivências – é muito positivo, pois traz uma diversidade de falas e propostas ao plano”, diz. 

Conforme explica o gestor público, a compilação de relatos para construção do plano só é possível graças a métodos como as oficinas participativas – como a realizada na escola Rodrigues Alves –, via seminários e consultas públicas. “A partir desses métodos, potencializamos e temos uma noção de como integrar as políticas públicas de educação ambiental, além de criar novas soluções aos problemas 

A Educomunicação em prática

“A educomunicação é, em resumo,  um exercício do direito à comunicação, no qual a gente tem o acesso à informação, mas também o direito de ser um potencial emissor ou emissora”. A fala da professora Thaís Brianezi aponta o que a oficina na Escola Rodrigues Alves se propôs a fazer. 

Professora Thaís Brianezi durante entrevista sobre o evento na escola Professor Rodriguez. Foto: Letícia Naome/JC

Os alunos, que moram em variadas regiões da cidade e da região metropolitana de São Paulo, foram apresentados ao PMEA e puderam relatar os problemas que encontram em seus bairros e o que gostariam que a prefeitura fizesse em termos de política de educação ambiental para tentar resolvê-los. 

“A educomunicação é, em resumo,  um exercício do direito à comunicação”

Prof Dra. Thaís Brianezi

“Eu achei a oficina importante, porque eu não conhecia o PMEA, mas agora que eu conheço eu posso me aprofundar. Assim como eu, alguns colegas não sabiam que podiam participar da formação de um plano de educação ambiental e também ficaram muito interessados em poder ajudar”, diz o aluno Sidney Rezende, de 48 anos de idade. 

Diferentemente de Sidney, o aluno Joan Salvador, de 33 anos, já conhecia o tema:  “Eu aprendi sobre questões ambientais em uma palestra que aconteceu na minha empresa há alguns anos, desde então passei a ter educação sobre reciclagem”, ao que acrescenta: ”acho que os alunos vão sair daqui sabendo que podem atuar nos problemas ambientais e que serão escutados pela prefeitura”.  

“Importante que debatemos sobre a questão das pessoas poderem fazer o tratamento do lixo na sua casa ou no seu apartamento, o que ajuda na reciclagem”, aponta a aluna Aline Cerqueira, de 23 anos. 

O descarte de lixo é um dos principais problemas ambientais que a cidade de São Paulo enfrenta. Isso porque, diariamente, 12 mil toneladas de resíduos domiciliares são gerados, mas a minoria desse montante é reciclada. Em setembro de 2022, por exemplo, menos de 2% do lixo teve como destino a coleta seletiva – segundo dados da SP Regula. 

Estudante Mara Oliveira durante atividade da oficina sobre meio ambiente. Foto: Letícia Naome/JC

“Eu gostei que a gente falou dos lugares em que, quando chove muito, tem risco de alagamento, o que gera prejuízo para a população e para a cidade. Por isso, é importante pensar em não jogar lixo na rua, mesmo que seja uma simples garrafa PET, porque isso pode contribuir para o alagamento”, relata a aluna Mara Oliveira, de 28 anos. 

O problema levantado por Mara é uma realidade em São Paulo, principalmente no verão, quando as chuvas são mais intensas e os moradores sofrem com os pontos de  alagamento na cidade. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), bairros como a Mooca, Vila prudente, Casa Verde e  Bela Vista – próximo da Escola Rodrigues de Alves – estão entre os mais suscetíveis a enchentes e alagamentos. 

Segundo a Rede Nossa São Paulo, as enchentes e a coleta de esgoto e de lixo, são respectivamente o terceiro, quarto e o quinto problemas ambientais mais apontados pelos moradores das diferentes regiões de São Paulo. No mesmo documento, 86% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que é necessário articular as políticas municipais, estaduais e federais para o enfrentamento dos desafios ambientais.

Temas que envolvem o lazer da população também foram levantados pelos estudantes durante a oficina: “Eu achei interessante que a gente discutiu que hoje muitas praças estão abandonadas, pois falta zeladoria para manter aquele local limpo e agradável para as crianças e adultos também”, exemplificou o aluno Edson Luiz Pereira dos Santos, de 32 anos.

Esses e outros relatos ouvidos pelos alunos da Universidade de São Paulo e que serão reportados para a prefeitura são exemplos práticos do papel da Educomunicação em prol da sociedade. “Valeu muito a pena interagir com um processo concreto de elaboração de uma política pública que vai dar resultados para a cidade de São Paulo”, finaliza Thaís.