Diversidades e ausências

Christiane Silva Pinto

Estreio como Ombuds(wo)man agradecendo ao professor e à turma por trás do jornal neste semestre. Não bastasse a honra de receber este convite, podendo contribuir com a Universidade que me formou em todos os aspectos, ainda tive a surpresa de ler meu próprio nome na notícia sobre o evento “Trajetórias Ecanas Ilustres”, que buscou trazer mais representatividade entre os convidados.

Representatividade que faltou entre o corpo discente e docente na época pré-cotas raciais em que fui aluna de Jornalismo. Tendo sido uma das raras alunas negras da ECA entre 2009 e 2013, me alegra ver a atenção que a equipe teve em trazer pessoas negras e indígenas para ilustrar matérias da edição 536 do JC. Também é notável a diversidade entre os entrevistados de maneira geral, como é o caso da reportagem sobre os problemas de transporte, que escutou alunos, professores e a prefeita do campus, além de trabalhadores das linhas de ônibus que cobrem o trajeto.

O Jornal acerta em destacar a questão da mobilidade na capa. Transporte é um dos temas centrais que impactam a qualidade de vida das 100 mil pessoas que passam pelo campus diariamente. Como ex-aluna que precisava acordar às 5h da manhã, tomar 2 ônibus, metrô e circular para chegar à aula às 8h, sei como o tempo de locomoção pode afetar o rendimento dos estudantes.

Esta também é uma edição recheada de temas extremamente relevantes para a comunidade USP, como a falta de professores, a segurança no campus e o atraso nas obras do CRUSP, o que torna estranha a decisão de não destacá-las na capa. Assim como foi infeliz a chamada “Arte também nas exatas”, que reforça o ultrapassado estereótipo de que ciências exatas e humanas não podem coexistir.

Outra decisão questionável foi a página inteira sobre os programas de internacionalização da USP, mas apenas um canto apertado para discutir o episódio de violência com arma na FFLCH. Ou mesmo a escolha por continuar a matéria sobre a proposta orçamentária na edição seguinte, deixando uma sensação de texto “pela metade”, não se aprofundando no impacto que os mesmos têm na prática e no dia a dia das pessoas da universidade. 

A edição trouxe boas pautas, de amplo interesse e que se mostram interligadas, como as já citadas matérias sobre planejamento orçamentário e falta de professores, ou a reportagem sobre transporte e as questões ligadas à segurança e segregação levantadas por Raquel Rolnik em sua entrevista. Entrevista esta que aborda temas políticos como elitismo e relacionamento com a comunidade externa. É motivador saber que alguém com visão de longo prazo e boas referências está à frente de decisões importantes sobre este poderoso espaço de convivência, aprendizado e, por que não, resistência.

*Christiane Silva Pinto é formada pela USP em jornalismo, criadora do AfroGooglers e especialista em comunicação inclusiva