Saúde não vê situação de emergência de dengue na USP, mas focos preocupam comunidade

Alunos e moradores relatam insegurança no campus e observam falta de posicionamento institucional

Por Alessandra Ueno, Bárbara Bigas e Gustavo R. da Silva

Sol, calor, chuvas intensas e dengue. É assim que o ano costuma iniciar no Brasil. “Nessa época do ano já é esperado um maior número de dengue no país todo, é o período de sazonalidade”, explica Luiz Artur Caldeira, coordenador de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo. 

Os meses de março e abril marcam o início da sazonalidade, mas em 2024 ela começou a ser observada em janeiro, o que levou a decretos de emergência no estado de São Paulo em 5 de março e na cidade de São Paulo em 18 de março. O calor e chuvas intensas aumentam as chances do acúmulo de água parada, favorecendo a proliferação de mosquitos da dengue. 

No boletim epidemiológico da Prefeitura de São Paulo anterior à publicação desta reportagem, o bairro do Butantã, onde a USP se localiza, registrou 605 casos. Bairros próximos como Rio Pequeno e Jaguaré registraram 1035 e 394, respectivamente. “Observamos que a média de casos desses bairros é inferior à média da cidade. A zona Oeste não é, neste momento, um grande foco de transmissão da dengue”, comenta Luiz. O total de casos na cidade, de acordo com o mesmo boletim, é de 145.926. 

Taxa de incidência de dengue nos bairros próximos à USP por 100.000 habitantes e serve para fornecer uma melhor base comparatória entre variações geográficas e temporais. Ilustração: Billie C. Fernandes/JC

E dentro da Cidade Universitária, local com grandes extensões de mata, o Aedes aegypti, transmissor da doença, pode ter algumas desvantagens. “Quem mais cria condições propícias a esse mosquito é o homem. Ele não sobrevive muito no mato porque tem outras espécies disputando, não é algo tão simples”, afirma Paulo Andrade Lotufo, superintendente de Saúde da USP.  

A atenção, contudo, deve ser mantida devido à grande circulação de pessoas no campus diariamente. “Uma pessoa que mora na zona Norte pode vir contaminada para o campus. Aí, o mosquito que está no campus e que não estava contaminado se contamina ao picar essa pessoa e, ao picar o colega, transmite a doença”, acrescenta Caldeira.

A estudante de Jornalismo na USP Luíse Homobono teve dengue pela primeira vez no início do mês de março e perdeu a primeira semana de aulas. “Foi horrível ter dengue, ainda mais estando sozinha, ter que faltar às aulas e perder dias de estágio”. A aluna diz não se sentir segura contra o Aedes no campus, uma vez que já encontrou focos de água parada. 

André Vieira, diretor da Associação de Moradores do CRUSP (AmorCrusp), pontua que os focos também afetam o conjunto residencial. “Infelizmente, tem algumas regiões com lixo e cascas de palmeira que acumulam água e não estão sendo recolhidos com a rapidez necessária”. No bloco F e no bloco A, existem hortas que, com frequência, acumulam água parada. “A zeladoria do CRUSP já limpou parte das hortas e até retirou as grades enferrujadas, mas a velocidade da limpeza está muito aquém do que é necessário.”

Porém, o superintendente de Saúde reforça a necessidade de analisar o contexto de emergência sanitária causada pela dengue em todo o município. “A Universidade não está isolada da cidade. Nós só podemos discutir essa questão em um contexto geral, até porque a maior parte da exposição que todos nós temos é fora do campus”, afirma.

“O alerta no campus para prevenção deve ser mantido o tempo todo, independentemente da condição epidemiológica do momento.”

Luiz Artur Caldeira, coordenador de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS) 

Na Cidade Universitária, os estudantes sentem falta de uma postura mais comunicativa da Universidade. “Não teve conversa com os alunos e é muito importante ter esse diálogo. Ter um momento em que a gente conversa e entende o que está acontecendo. Quantos de nós pegamos dengue? Quantos casos foram contraídos no campus? O que podemos fazer para ajudar?”, afirma Bruna Letícia de Souza, aluna do curso de Editoração. 

Paulo considera que o ideal seria trabalhar de forma mais ampla em relação a comunicação, mas ressalta que muitas vezes as divulgações enfrentam barreiras institucionais, já que a USP precisa seguir as mesmas orientações do Governo do Estado. O cuidado para não reproduzir informações minimamente divergentes acaba reduzindo as possibilidades de comunicação. O coordenador recomenda que o campus garanta uma boa zeladoria, mantendo calhas desobstruídas, caixas d’água devidamente vedadas e realizando inspeções regulares. 

Como denunciar focos

Para denunciar possíveis focos de dengue no campus Butantã, basta entrar em contato com a Prefeitura do Campus por meio do e-mail pusp.c@usp.br, indicando o local do possível foco.