Ações policiais são pouco estudadas

Para especialista, ações como a da PM no campus poderiam ser melhor planejadas se houvesse mais empenho em pesquisa e diálogo

Tânia Pinc trabalha há 22 anos na Polícia. Em 2007, defendeu seu Mestrado sobre o uso da força nas ações policiais, pelo Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Seu intuito era analisar esse ponto, pois ele é pouco estudado. Para conseguir avaliar, usou um método diferenciado: filmar os policiais. Usou também um questionário de avaliação sobre a situação de trabalho dos oficiais.

“Quero, assim, ajudar a compreensão do trabalho do policial em geral, uma vez que no momento do combate ao crime, ele se submete a uma situação de tensão e risco à vida, e isso se agrava quando ele não está satisfeito ou desobedece às normas”, relata. Ela ainda continua suas pesquisas na área, chamando atenção para a ausência de estudos, na Universidade, sobre a ação policial. Seu Mestrado está em andamento, tratando agora do Treinamento Policial e de suas formas de interação com a população.

Após o ocorrido na Cidade Universitária em 9 de junho, surgiram muitos questionamentos relacionados à própria ação dos policiais, como, por exemplo, a legitimidade da ação e o motivo da atuação no campus. Além disso, não ficou claro qual das divisões efetivamente participou do acontecimento.

Pinc observa que para entender o processo, é necessário, primeiramente, dividir as atuações por instâncias governamentais: a Polícia Federal é a força maior, que organiza a segurança pública em âmbito nacional. Ela é responsável pela segurança da União e ações como o controle de saída e entrada de pessoas, trafego aéreo e a adoção de crianças estrangeiras por pais brasileiros ou de crianças brasileiras por estrangeiros, entre outras.

Mais presentes no cotidiano dos cidadãos, estão a Polícia Militar e a Polícia Civil. “As duas polícias agem nas mesmas esferas da sociedade, porém por meio de trabalhos complementares”, explica. Ela ainda observa que o trabalho é feito em dois ciclos: o primeiro, realizado pela PM, consiste no policiamento ostensivo (patrulhamento), mas não necessariamente violento. Ele é voltado para o combate e prevenção ao crime. Já o segundo ciclo, é realizado pela Polícia Civil, que continua o processo de investigação de um suspeito preso em uma ação da Polícia Militar, por exemplo.

As duas categorias têm como função primordial a manutenção da ordem pública e são submetidas às ordens não apenas do Governo Federal, mas também do Secretário de Segurança Pública e do Governador.

Operações da PM

“Em São Paulo, a criação do 190 [número de telefone para atender à população em chamados urgentes] colaborou para o aumento da atuação da polícia , que se tornou referência de segurança para a população”, diz a especialista, a respeito dos mecanismos criados pela PM para aumentar o contato com o povo da cidade.

Outro deles é a patrulha de áreas com o maior número de ocorrências, feita a partir da análise de um mapa elaborado a partir dos episódios registrados em cada distrito da cidade. “Por isso, se a pessoa não faz boletim de ocorrência, não sabemos que aquela área é vítima de crime”, analisa Pinc.

Conflito na USP

No episódio de 9 de junho, a ação se deu por meio da Força Tática, que se trata de uma companhia presente em cada Batalhão da Polícia Militar. São policiais treinados para ação em ocorrências de controle de civis, especialmente manifestações.

Pinc relata que “sempre que houver qualquer manifestação, a polícia estará presente, para garantir a ordem pública e o direito à manifestação.

A ordem pública sempre será visada para que outras pessoas que não estejam envolvidas tenham seus direitos garantidos. Especificamente no acontecimento na USP, a polícia foi acionada devido à falta de diálogo entre as partes. No dia 9, os policiais agiram de acordo com os acontecimentos. A partir do momento que se encerrou o diálogo dos alunos com o corpo policial, os oficiais partem para a segunda instância: ação com produtos químicos para conter os manifestantes”, aponta. Este é um dos exemplos de situação estudada por Pinc em suas pesquisas. “Na Universidade, a força deveria ser apenas objeto de estudo, não usada contra os alunos”, finaliza.

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