Entre os policiais militares de São Paulo, a definição da carreira é unânime: não se trata apenas uma profissão, mas de um estilo de vida. E, como tal, exige muito esforço e determinação daqueles que a escolhem.
Segundo o site da Polícia Militar, um candidato a oficial, hoje, precisa ter o ensino médio completo e prestar o vestibular da FUVEST. Depois, ele deve passar quatro anos cursando o ensino superior na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Nos primeiros anos, o regime é de internato – o estudante passa dia e noite na instituição.
Durante esses anos, o aluno estuda matérias de direito, legislação de trânsito e tem noções específicas de cada área, como polícia ambiental ou rodoviária. Além disso, passa por treinamento físico e técnico.
Rosemeire Soler, major e diretora de educação de trânsito do Detran, conta que a formação do aluno oficial é idêntica para homens e mulheres. “Hoje em dia, há muitas mulheres seguindo a carreira militar e, por isso, não existe preconceito. O que muda é a carga de exercícios”.
Existem duas formas de se entrar para a Polícia Militar: como soldado ou como aluno oficial, ambas por concurso público. Rosemeire explica que o curso de soldado dura apenas oito meses e, deferente do do curso de oficial na Academia, é separado entre homens e mulheres.
A rotina, mesmo para quem já está formado, é intensa. O major Paulo Sérgio Neves explica que, todos os anos, os oficiais são submetidos a um teste de aptidão física, que inclui corrida, abdominais e flexões. Além disso, para conseguir a habilitação em armamento é preciso completar 200 tiros em treinamento. “Sem essas provas, o oficial não pode ser promovido nem se especializar”, diz.
O treinamento é rígido e bastante tradicional: não mudou muito nas últimas décadas. Neves conta que ingressou na Polícia Militar em 1982 e que também passou pelo concurso público e pelo internato. “A diferença é que, naquele tempo, o curso tinha cinco anos – dois do ensino médio e três de ensino superior”, relembra.
O conflito na prática
O lado negativo da carreira militar é ter que lidar com situações de conflito e, muitas vezes, correr risco de vida. Em novembro do ano passado, o major Neves passou por uma dessas situações, que descreve como o dia mais difícil da sua vida. “Houve um assalto a banco em Guarulhos envolvendo mais de 20 indivíduos.Na fuga, os assaltantes se dividiram em carros e trocaram tiros com viaturas e até com o helicóptero Águia 14. Minha viatura levou mais de 12 tiros, e tive o pulmão perfurado por uma bala”. A memória dolorosa acabou tendo um desfecho positivo para o oficial: Neves será condecorado com a mais alta comenda da instituição.
Há 40 anos…
Dógali Fábio*, ex-PM, conta que pertencia à Guarda Civil quando esta foi incorporada à Polícia Militar, durante a ditadura. “Eram dez e meia da noite quando passaram uma circular informando a tragédia”, relata, lembrando a data que marcou sua carreira: 31 de dezembro de 1969.
Para os oficiais da Guarda Civil, a mudança veio acompanhada de uma adaptação a novas regras e rotinas. “A disciplina era diferente, não era tão rígida. Se você errava na corporação civil, era obrigado a trabalhar por um ou dois dias sem ganhar salário. Já na militar, o castigo era ir para a cadeia, mas você continuava recebendo”, conta.
* serviu a Guarda Civil por 19 anos e a Polícia Militar por 11, incluindo dois anos como bombeiro, mas é dos primeiros anos que guarda as melhores lembranças. Comenta, em especial, sobre um episódio curioso que viveu quando atendia a uma ocorrência no bairro Cambuci, em São Paulo: “a dona de uma pensão havia discutido com uma hóspede e, não encontrando objeto próximo, agarrou um gato e atirou-o contra a outra mulher, que foi arranhada. Levamos o caso ao plantão do Páteo do Colégio – a ocorrência foi tão inesperada que o delegado não soube, sequer, como dar-lhe o título. Seria ‘agressão à mulher’ ou ‘agressão ao gato’?”