Estudantes serão despejados e reclamam de repressão

A Justiça concedeu a liminar pedida pela Consultoria Jurídica (CJ) da USP em sua ação de reintegração de posse feita em março deste ano em face da Amorcrusp e de outrem identificados pela Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) por ocasião da ocupação do prédio do Serviço Social. Houve recurso, indeferido, sendo mantida a liminar.

Segundo a CJ, a USP fez o que é obrigada a fazer: defender o patrimônio público em resguardo dos bens que estavam lá. A atual gestão da Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp) – Gestão Coletiva Aroeira – alega que há falta de moradias estudantis justamente pelo fato de áreas que eram apartamentos serem utilizadas pela Coseas e pela Administração. Ainda afirmam que “não existem muitos investimentos na permanência estudantil a mais de quarenta anos e, desde a criação do Crusp, as vagas se reduziram quase à metade, além do sucateamento do projeto original”.

A CJ afirma que dar moradia é dever do governo e é uma liberalidade da Administração fazê-lo dentro de sua possibilidade, sendo inviável abrigar a todos os alunos. A seleção para preenchimento das vagas é baseada em critérios socioeconômicos e acadêmicos, segundo o Artigo 3° do Regimento do Crusp. De acordo com a Amorcrusp, o número de alunos que pleiteiam por vagas é maior que a disponibilidade delas e afirma que alunos desistiriam da USP por não terem condições de se manter e que, neste ano, “seis alunos desistiram de seus cursos”.

Repressão

Eles reclamam também de atitudes consideradas repressivas e controladoras por parte da Coseas e de seus funcionários, que são acusados de vigiar a vida dos moradores, “além de arrancarem cartazes de cunho artístico-político, vigiar nossas Assembléias e expulsar moradores na calada da noite”. Denúncias da Coordenadoria, cedidos ao Jornal do Campus pela Amorcrusp, comprovam um monitoramento das movimentações dos moradores e de ocorrências no Conjunto Residencial. Neles, há casos de perturbação da ordem na madrugada, reuniões, discussões entre namorados (detalhando-se dados pessoais e conversas), concessão de moradia sob condição de fazer tratamentos psiquiátricos no Hospital Universitário (HU), entre outros. Segundo o Artigo 13 do Regimento do Crusp, porém, são deveres dos moradores “cooperar e zelar pela manutenção da (…) moradia; não perturbar o repouso noturno, bem como evitar barulhos excessivos em qualquer horário”.

Não há no regulamento, entretanto, nada que condicione a submissão a tratamentos médicos ou que permita relatoria de ações pessoais e de conversas. Isso violaria o Artigo 5° da Constituição, que afirma que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, (…) é livre a expressão da atividade de comunicação, independentemente de censura ou licença, (…) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”.

Quando questionada sobre o assunto, a CJ assegurou que não se trata de repressão, mas de organizar a convivência dos moradores. O Programa de Ação Comunitária e Segurança do Crusp prevê, porém, a “implantação de um banco de dados para monitoramento das ocorrências e do cotidiano da moradia”. Dentre os recursos materiais necessários para o sistema de segurança do Crusp constantes no Programa, há binóculos de visão day and night (dia e noite) e de longo alcance. Segundo o mesmo documento, é função do Agente Comunitário “exercer tarefas de controle da ocupação do espaço interno e do entorno da moradia universitária”, para manutenção da ordem e da segurança. Segundo Dr. Yvan, já há um “levantamento e apuração das denúncias que serão encaminhadas ao Procurador Geral de Justiça. Já temos provas que imputam a esses funcionários, em tese, os crimes de seqüestro, cárcere privado qualificado pela internação em casa de saúde mental, constrangimento ilegal, entre outros.” O pronunciamento do professor Waldyr Jorge, coordenador da Coseas, quanto às acusações é que “desconhece qualquer tipo de arbitrariedades cometidas por funcionários quer no tempo atual ou no passado recente.

Denúncia da relatoria da vida pessoal de moradores do Crusp (Reprodução)
Denúncia da relatoria da vida pessoal de moradores do Crusp (Reprodução)