Em meio a homenagens e protestos, alunos dizem que sensação de insegurança continua. Reitoria promete mudanças ainda para este ano
Dois anos se passaram desde uma das tragédias mais marcantes na história recente da Universidade de São Paulo: no dia 18 de maio de 2011, o aluno de Ciênciais Atuariais Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, foi assassinado em um dos estacionamentos da FEA. Ao sair da aula, por volta das 21h30, ele foi surpreendido por uma dupla de assaltantes e reagiu à abordagem. Após travar uma luta com um dos criminosos, o estudante tentou fugir, mas foi baleado na nuca antes de alcançar seu carro. Felipe morreu no local.
“Havíamos acabado de sair da aula e nos dirigimos para o estacionamento. Chegamos pouco depois do ocorrido”, lembra o colega de sala Arthur Sanches. Segundo ele, as duas primeiras semanas após o crime foram as mais difíceis. “Alguns alunos sentiram bastante, ainda mais pelas circunstâncias”.
As aulas do dia seguinte foram suspensas pelo diretor da unidade, Reinaldo Guerreiro. Em protesto, estudantes distribuíram pela faculdade uma carta aberta impressa pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC). Além de oferecer solidariedade a colegas e familiares, o texto antecipava um debate mais amplo, que ganharia força na universidade nos meses seguintes: a questão da segurança. “Um primeiro ponto diz respeito à falta de iluminação adequada, não só nos arredores da FEA, mas em todo o campus”, dizia o folheto. “Há falta de vigilantes no perímetro das unidades (…). A perda de nosso colega escancara de maneira lamentável a necessidade de se debater a segurança no cotidiano universitário.”
Com apoio da FEA, a reitoria assinou, meses depois, um convênio com a Polícia Militar, formalizando a presença de cerca de 30 policiais no campus, bem como de duas bases móveis, para colaborar com as ações de patrulhamento da Guarda Universitária.
A medida fazia parte de um novo plano de segurança , que incluía cursos e palestras de prevenção, a criação de canais de comunicação entre a comunidade e a PM, e o Fórum da Cidadania pela Cultura da Paz, que discutiria maneiras de reduzir a violência no campus. Na ocasião, o reitor João Grandino Rodas anunciou também a instalação de um novo sistema de iluminação, com conclusão prevista para abril de 2013.
Segundo representantes do CAVC, os cursos e palestras nunca saíram do papel, tampouco o aclamado fórum de discussão. Em janeiro deste ano, a licitação que previa a ampliação de 3,2 mil para 7 mil pontos de luz na Cidade Universitária foi cancelada pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) pela terceira vez.
Homenagem
No último dia 20, em protesto contra a falta de mudanças e em homenagem aos dois anos da morte de Felipe, alunos da FEA apagaram todas as luzes do prédio central da faculdade e acenderam velas. Em seguida, foi respeitado um minuto de silêncio. Na noite anterior, o CAVC publicara uma nota afirmando que “as condições que geraram o assassinato de Felipe estão hoje inalteradas. Esperamos que nenhuma outra vida se perca enquanto medidas eficazes e imediatas não são tomadas”.
“Em 2011, nós da FEA nos colocamos a favor da presença da PM no campus, mas sempre deixamos claro que esta não era a única solução para a falta de segurança”, afirma João Morais Abreu, presidente do CAVC. “Na época, a reitoria prometeu um policiamento comunitário e um fórum que nunca foram para frente”, protesta. Ele também ressalta que a questão da segurança atravessa os limites da FEA. “A falta de iluminação existe em toda a universidade. É uma discussão de todos”.
Segundo o diretor da FEA, Reinaldo Guerreiro, algumas melhorias “superficiais” foram feitas durante estes dois anos pela própria faculdade, enquanto a instalação da iluminação não tem início. “Ficamos no aguardo da implementação do projeto da USP. Seremos o projeto piloto”, afirma. “Depois de vários problemas com a eficácia da licitação, ele será niciado e a FEA terá melhorias mais profundas”.
SPPU
Procurada pelo Jornal do Campus, a assessoria da Superintendência de Prevenção de Proteção Universitária (SPPU) afirmou que, após os problemas no processo licitatório, “foi publicada no dia 22 de maio a homologação da empresa que vai instalar o sistema de iluminação”. A empresa vencedora foi a Alper Energia, que deverá concluir a obra em até um ano. De acordo com a Superintendência, a instalação será paulatina, com prioridade para pontos onde a iluminação é mais precária.
O superintendente Luiz de Castro Junior afirma que campanhas de prevenção universitária serão desenvolvidas em todos os campi da USP a partir do segundo semestre. Serão distribuídos panfletos e cartazes com orientações sobre cuidados no transporte coletivo, nas agências bancárias e como se deslocar com mais segurança.
Fórum
Céticos quanto ao Fórum da Cidadania pela Cultura da Paz, estudantes da FEA iniciam no dia 6 de junho, o Fórum Felipe Ramos de Paiva, no qual serão realizadas palestras e discussões periódicas sobre a insegurança na USP. “Será também um novo mecanismo de pressão para melhorias na universidade”, afirma João Morais Abreu, presidente do CAVC.