Más condições de trabalho também são frequentes entre estes funcionários e não há punições a agressores, segundo eles
Funcionário terceirizado da USP, L* é vigilante há mais de quatro anos. Contudo, desde março ele pede para ser mandado embora. L, assim como outros trabalhadores, afirma ter sido assediado moralmente por funcionários da Universidade que o agridem verbalmente e desmerecem sua atividade profissional, além de promover ações excludentes entre a classe tercerizada.
O assédio ocorreu após parte do forro do teto da sala dos vigilantes cair. Segundo L, o ambiente estava insalubre já que cacos de vidro e muito pó impediam a permanência dos funcionários e a execução do trabalho. Após diversos pedidos para que o local fosse limpo serem negligenciados, o vigilante decidiu falar com o supervisor da Evik, empresa responsável por sua contratação, e com o chefe da Guarda Universitária (GU). Ao retornar ao seu local, uma funcionária da Universidade que foi incumbida da limpeza da sala começou a gritar com ele na frente dos demais afirmando que não o queria mais trabalhando no ambiente. L foi retirado e transferido de posto de vigilância sem ser consultado e sem que houvesse uma investigação ou retratação da funcionária sobre o ocorrido.
Outros casos envolvendo a mesma agressora já foram relatados. “No começo, ela escondia material de limpeza, controle do ar condicionado e até mesmo papel higiênico para que os tercerizados não tivessem acesso”, relata. Além disso, comentários que inferiorizam a atividade exercida pelos vigilantes ou a sua remuneração são frequentes.
O caso de L não é isolado. K*, outra funcionária tercerizada, foi vítima de preconceito. Ela, prestadora de serviços da limpeza, ouviu de uma funcionária do bandejão central que recebia pouco porque merecia e que seu salário equivalia ao vale-alimentação dos funcionários da USP. Dia 9 de abril, um vigilante que manifestava em frente à reitoria também destacou, em entrevista, cobrança demasiada por membros da GU.
Triste, L lamenta diante das inúmeras violências das quais ele e seus companheiros são vítimas. Segundo ele, os tercerizados buscam ouvir as agressões sem se exaltar, pois, caso algum funcionário reclame de suas atitudes, eles são punidos. “Eu vejo isso como assédio moral. O que me entristece é que isso acontece e vai continuar acontecendo. Essa impunidade é triste.”
Atrasos dos benefícios
Segundo Claudionor Brandão, um dos diretores de base do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), a tercerização introduz um trabalho semi-escravo porque as pessoas são contratadas para receber o salário mínimo e são submetidas a situações constragedoras. “Houve um tempo que os trabalhadores tercerizados eram proibidos de fazer suas refeições na copa ou em locais onde fossem vistos pelos docentes e alunos, obrigando os trabalhadores a fazerem suas refeiçoes no banheiro”, revela. Além disso, não são raros casos de atraso de pagamento e de benefícios, como vale-transporte e refeição.
O professor Jorge Souto Maior, especialista na causa trabalhista, também acredita que esse regime de contratação não possui benefícios a empregados, somente a empregadores. Ele ainda ressalta que a grande dificuldade dos terceirizados na hora de procurar ajuda diante dos casos de assédio está relacionada ao fato de ele não estar integrado institucionalmente à empresa contratante. “Quando os tercerizados tentam resistir ou buscar seu direitos, são transferidos ou colocam em risco um bem maior, que é o próprio emprego”, comenta.
Souto Maior aconselha que as pessoas que estejam passando por qualquer tipo de agressão ou assédio no ambiente de trabalho busquem ajuda com um advogado e entrem com ações na justiça pedindo indenizações. “A Justiça do Trabalho está mais afeita a compreender essa realidade e dar uma resposta positiva às pessoas que têm se sentido vítima desse tipo de situação”, completa.
* Os entrevistados preferiram não se identificar