
O Aeroporto de Congonhas mudou de nome para Aeroporto de Congonhas – Deputado Freitas Nobre em homenagem ao professor, jornalista, advogado, deputado e, principalmente, defensor da Lei da Anistia e das Diretas Já, Professor José Freitas Nobre.
A mudança foi apresentada pelo deputado João Bittar, em 2012. Cinco anos depois, em maio de 2017, foi aprovada pelo Senado e sancionada pelo presidente Michel Temer no dia 16 de junho.
Nascido no Ceará em 1921, faleceu em 1990 e foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, vice-prefeito de Prestes Maia e eleito deputado federal 5 vezes. Na década de 70 foi afastado da USP por ser considerado subversivo, e se exilou na França durante a ditadura, voltando à Universidade no final da década de 80, pouco antes de falecer.
Ele ajudou a fundar uma das disciplinas mais antigas de Jornalismo, a Agência Universitária de Notícias (AUN), que existe até hoje. Também dá nome ao único auditório do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE-ECA) e a uma Escola em Diadema.
O advogado Marcelo Rossi Freitas, filho de Freitas Nobre,afirma que seu pai se sentiria muito honrado com esse reconhecimento e dedicação ao povo.“Que ele sirva sempre de exemplo para as novas gerações.”
Freitas relembra que seu pai considerava a USP com uma importância muito grande e que possuía muito carinho por ela. “Ele tinha um desejo da USP se manter entre as primeiras universidades do mundo.”
No ambiente familiar, comenta de sua formação: “era um grande estudioso, a mesma pessoa dentro e fora de casa e tratava todos com o mesmo respeito.” Seu irmão, Marcos, é professor da Unicamp, jornalista e fez carreira em filosofia na USP. Todos receberam com grande alegria a notícia, sobretudo pelo momento em que Brasil se encontra. “Era um democrata na sua essência”, finaliza Marcelo.

Congonhas – Freitas Nobre
A professora Patrícia Carvalhinhos, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH, explica que não existe uma regra, mas é necessário que toda uma geração seja substituída para que um novo nome se torne o mais usual; essa é a tendência. Ela é responsável por Toponímia I, II, III e IV na graduação, onde o objeto de estudo é o nome próprio de lugares (topônimo) e de pessoas (antropônimo) em suas implicações linguísticas, geográficas, sociais, ideológicas, entre outras, e atua na Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa, além de diversos projetos na área.
Congonhas é um termo muito conhecido mas a professora atenta para as mudanças que um nome oficial pode trazer. A questão aérea traz um elemento importante, que é a escrita, com o ticket, o bilhete de embarque e as identificações visuais. “O novo nome pode começar a aparecer em sites de compras de passagens aéreas, por exemplo”. A mídia também influencia, a partir do momento que passa a repetir o nome.
“O nome popular tem muito apelo, as pessoas até sabem que muitos lugares têm um nome oficial, mas usam o espontâneo e conhecido, que referencia, que individualiza, que diz o que é”, afirma. “O nome é uma ferramenta ideológica”.
A referência espacial é maior que o nome oficial e a professora, uma das poucas especialistas em Toponímia no Brasil, exemplifica com a “Praça da Toco”. “Toco era o nome de uma casa noturna, famosa, mas que não existe mais, e o local já foi reformado, já abrigou vários comércios, mas até hoje as pessoas chamam de Praça da Toco. O nome oficial, ninguém conhece.” Ela afirma que isso é um fenômeno humano e mundial.
Galeão, mudou para Tom Jobim; algumas pessoas incorporaram o novo nome, outras não. Essa “resistência” é normal, pois muitas vezes ocorre o que se chama topofilia, “que é um sentimento, um apego pelo local, onde ocorre uma identificação e aceitar é mais difícil”, afirma. O termo veio com o geógrafo Yi-Fu Tuan e foi difundido no país nos anos 80.
No Brasil, a maioria dos projetos de lei é referente à mudança de nomes de ruas e locais públicos. Até mesmo o Viaduto do Chá, um dos mais tradicionais endereços de São Paulo, tem uma proposta para virar Viaduto do Chá – Mário Covas.
A professora finaliza apontando um processo que denomina inflação toponímica, uma espécie de inchaço nos topônimos que vem sendo uma constante em nomes de logradouros públicos paulistanos: para evitar resistência, em primeira instância, ou mesmo para não ocasionar problemas de localização, existe a tendência de se manter o nome já usado e adicionar-se o segundo, unindo-se os dois nomes, de motivações completamente distintas, por um hífen.
