Lattes de Abraham Weintraub explica porque seu ministério é o que mais preocupa e o que menos realiza no governo Bolsonaro
Por Pedro Gabriel
Começando pela titulação, segundo o currículo Lattes do ministro da Educação, ele não é doutor, apesar da informação dada pelo presidente Jair Bolsonaro em seu twitter e depois apagada. Contando com Weintraub, nos últimos 20 anos, metade dos ministros da educação não possuíam o título de doutor: foram 12; destes, cinco não possuíam doutorado e somente um adquiriu o título de Doutor honoris causa durante o mandato.
Abraham Weintraub produziu, segundo seu currículo Lattes, quatro artigos publicados em duas revistas diferentes. Contudo, conforme informado em reportagem da Folha de SP, o ministro publicou o mesmo artigo duas vezes em revistas distintas. Detalhe: dos três artigos publicados, uma é em co-autoria com a esposa e outro com seu irmão. Sozinho, escreveu um artigo na vida.
As revistas que publicaram seus artigos são a Revista Brasileira de Previdência e a Revista Chilena de Derecho del Trabajo y de La Seguridad Social. Segundo o Qualis – Periódico, as revistas estão na categoria B4 e B5, o que significa que as publicações têm baixíssima relevância científica.
O Qualis – Periódico é um sistema para a classificação de produção científica, ou seja, ele indica a relevância científica das revistas que publicam artigos de pesquisadores. O ranking começa com A1 A2; na categoria B, são B1, B2, B3, B4 e B5, além de C.
A discrepância entre a produção do ministro e do seu irmão são gritantes: Arthur Weintraub, irmão de Abraham, atuou junto ao ministro na equipe de transição do governo Bolsonaro, na área da previdência, e possui 33 artigos publicados.
Um dos itens com mais conteúdo no currículo do novo ministro da Educação são textos publicados no jornal Valor Econômico, cinco em 2007 e um publicado em 2010. O outro item com a mesma quantidade de conteúdo são entrevistas a respeito de sua pesquisa, todos do ano de 2016, quando a reforma da previdência de Michel Temer estava no cotidiano do brasileiro.
Abraham Weintraub é economista formado na USP. Dedicou sua vida ao mercado financeiro, como diz sua biografia no currículo. Seu único vínculo com a educação brasileira foi, além de estudante, professor da UNIFESP, começando em 2014, e orientou apenas um aluno durante seu período na instituição.
O ministro da educação irá propor, em maio, o que chamou de “medidas agressivas” para o seu projeto de educação, como diminuir investimentos em Sociologia e Filosofia, porque não respeitam o dinheiro do contribuinte, ao contrário de Medicina, Veterinária e Engenharia. Weintraub afirmou que o ENEM não terá “questões polêmicas” ou com “viés ideológico”.
O ministro é contraditório: sugeriu que os estudantes “foquem na técnica de escrever, na interpretação de texto, foquem muito em matemática, ciência, e realmente, no aspecto que a gente quer desenvolver, o conhecimento científico e na capacidade de desenvolver novas habilidades”. Ele esqueceu que ler e escrever são habilidades ensinadas por professores formados em ciências humanas, que ele desconsidera…
Na terça-feira, dia 30 de março, o ministro da educação cortou 30% da verba de três universidades federais: a UnB, UFF e UFBA. Segundo Weintraub, o corte seria devido ao que, segundo o ministro, aconteceria no campi dessas universidades. O ministro, em entrevista ao Estado de São Paulo, afirmou que “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”.
Balbúrdia, para ele, seria manifestações partidárias, eventos políticos ou festas inadequadas ao ambiente universitário. Weintraub ainda diz que esses não foram os únicos critérios para cortar a verba, mas que os resultados apresentados são aquém da expectativa. O ministro, com 4 artigos publicados, diz que “a lição de casa precisa estar feita, publicação científica, avaliações em dia, estar bem no ranking”.