Por Ane Cristina
Eu lembro de uma vez que uma amiga da USP me pediu sugestão de lugar para sairmos. A intenção era que fôssemos a um lugar diferente. Até lembrei de um, mas não falei nada.
Sabe o que é… Sou de uma realidade diferente da grande maioria daqui. Os lugares que eu conheço e até frequento não são os mesmos que eles. Mas não tô reclamando de ninguém. É todo mundo muito consciente.
Quando eu entrei, esse era um medo que eu tinha. Das pessoas serem muito diferentes do que eu já conhecia e não conseguir me enturmar direito. Mas não foi assim. Fiz vários amigos. E todo mundo aqui tem noção do quão privilegiado é.
Aliás, “privilégio” é uma palavra muito falada na USP. Ouço bastante. As pessoas estão sempre discutindo e afirmando que para uns é mais fácil estar aqui do que para muitos outros. Para eles é mais fácil estar aqui do que para mim. “O certo é que todo mundo tivesse a mesma oportunidade que a gente”, eles dizem. E eu admiro essa consciência social.
E sabe, é bom saber que a realidade da USP tá mudando, mesmo. Tá ficando mais diversificada, todo mundo concorda. As cotas são um grande passo, eu ouço muito isso. E é verdade.
Só não mudou o suficiente para eu me sentir à vontade para sugerir ao meus amigos que frequentem os mesmos lugares que eu. Fico meio impaciente quando, de novo, mesmo me conhecendo há dois anos, me chamam para rolês que eu já avisei que eu não tenho dinheiro para ir. Fico em silêncio quando me perguntam onde comprei algumas coisas ou onde fiz a sobrancelha. Saio para alguns rolês e volto sem gastar nada. Hesito em falar as profissões dos meus pais. Não tenho nada para falar quando o assunto é “viagens internacionais”. Nunca considero a minha casa como opção para fazer festa de aniversário. Nem no meu aniversário.
Mas ó, eu não tenho do que reclamar. Estudo na USP, puta privilégio. É algo em comum com meus colegas. Nem tô tão atrás. Nem sou tão diferente.
E nesse assunto de privilégio, como eu disse, aqui é todo mundo bem consciente.