Vencedor não é somente quem recebe medalha de ouro, certificado e uma bela quantia em dinheiro
Por Marcelo Canquerino
Em um governo no qual a ciência e a educação são constantemente atacadas a ameaçadas, fica difícil acreditar que o Brasil tem conquistado destaque em pesquisas internacionais. Mas é exatamente isso que acontece, vide o exemplo do Nobel.
Recentemente, foram anunciados os vencedores do prêmio, reconhecimento mundial que laureia pessoas ou organizações que fizeram pesquisas e descobertas benéficas para a humanidade. Apesar dos que recebem os prêmios, líderes de equipes científicas, serem estampados pela mídia, outros cientistas, entre eles brasileiros, trabalham na mesma pesquisa, assinam artigos juntos e têm a mesma importância na conquista do Nobel.
Na equipe, brasileiros
Joanna Lima é pesquisadora do ICB e realiza seu doutorado na Universidade de Oxford. Ela estuda “caquexia associada ao câncer”, uma condição no qual os pacientes apresentam perda de peso involuntária. Os resultados de seus estudos indicaram que doentes caquéticos apresentavam alterações em funções biológicas, como a hipóxia (baixas taxas de oxigênio nas células).
“Por conta disso eu quis entender melhor o processo de hipóxia e então, junto da minha orientadora, chegamos no professor Peter. Desde sempre ele foi muito solícito e logo me aceitou para trabalhar no seu laboratório”.
A conquista do Nobel de Medicina por Peter Ratcliffe nunca foi para si próprio, conta Joanna, mas mérito de várias pessoas há mais de 20 anos, desde os que ajudaram a abrir o laboratório, até os que pesquisam atualmente. Ter uma brasileira entre eles demonstra que o Brasil não está tão atrás na ciência quanto parece.
Houve rumores de que as bolsas da FAPESP – uma das quais de Joanna – seriam cortadas. Isso não aconteceu, mas o laboratório em que trabalha garantiu que, se o seu auxílio acabasse, eles arcariam com os custos para a jovem permanecer e concluir a pesquisa.
Nível internacional
Para Leonardo dos Santos, ex-aluno da USP que trabalha no observatório dos ganhadores do Nobel de Física, na Suíça, “o potencial está na capacidade dos cientistas brasileiros de produzir conteúdo original e inovador, e isso não falta. Sei disso porque trabalhei com astrônomos de vários países desenvolvidos, e sei que podemos produzir ciência no mesmo nível”.
O jovem observa e estuda atmosferas de exoplanetas, ou seja, planetas fora do Sistema Solar, através do Telescópio Espacial Hubble. De acordo com Leonardo, a conquista do Nobel foi dividida com o grupo de exoplanetas no Observatório de Genebra, todos envolvidos, de alguma forma, com o projeto vencedor.
No Brasil, há potencial de sobra. O que dificulta e piora o processo são os cortes que a ciência vem sofrendo.
“Lá fora nós temos chances de desenvolver estudos que seriam difíceis de fazer no Brasil. Pensando por esse lado, os brasileiros acabam se destacando quando vão trabalhar em pesquisas no exterior porque sabemos no adaptar à falta de recursos e por isso somos mais elaborados”, conclui a pesquisadora.