A crise dentro da crise: economia em queda e desemprego em alta

Pandemia da Covid-19 provoca altas taxas de desocupação que vêm crescendo mês a mês desde o início do ano

Por Giovanni Marcel e Luccas de Almeida

Além de ser uma crise de saúde, Covid-19 potencializou o desemprego existente no país – Foto: Luccas Almeida/Jornal do Campus

Em 30 de janeiro de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto da Covid-19 como Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional. Desde então, países ao redor do globo vêm lidando com uma crise tanto na saúde quanto na economia. E, dentre suas diversas consequências, uma das principais é o desemprego.

De acordo com o IBGE, em março de 2019 o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 12,7%, que entrou em queda até dezembro. Mas, a partir do começo de 2020, com a pandemia, houve uma rápida alta na desocupação, que chegou a 12,9% em maio deste ano – cerca de 13,9 milhões de desempregados no país.

Gráfico: Vital Neto/Jornal do Campus

O professor Carlos Toledo, da FFLCH-USP, explica que a pandemia tem responsabilidade pela crise. “Não se trata de uma crise de desabastecimento, porque ela está muito mais relacionada àquele tipo em que as prateleiras estão cheias e as pessoas não têm dinheiro para comprar”, conta Toledo, que completa dizendo que “a crise causada pela Covid aparenta ser de subemprego”.

E a busca por empregos parece não dar frutos. É o que afirma  o estudante de Engenharia Espacial do curso da Universidade Federal do ABC, Fabio Benatti. Em 2018, antes da crise e da pandemia, foi contratado assim que começou a procurar seu primeiro estágio. Hoje, no entanto, o cenário é completamente diferente. Embora esteja nos últimos semestres de sua graduação, nunca foi tão difícil conseguir uma ocupação.

Mesmo na escassez de opções, receber uma resposta parece impossível. Com tão poucas vagas e um desemprego profundo, ser escolhido para a próxima fase da seleção é ainda mais difícil. “Os poucos processos seletivos que eu encontro e participo não têm respondido. É como se eu nunca tivesse mandado nada”, reclama Benatti. “Quando eu procurava em 2018 me chamavam para entrevistas e tudo o mais.”

Embora não se recorde de iniciativas da Universidade, Fabio, que é membro da bateria universitária da UFABC, a Infanteria, lembra que a entidade foi responsável pela organização de duas oficinas voltadas para processo seletivo, que pretendia melhorar os currículos e perfis on-line em sites de busca por emprego dos alunos participantes em meio à crise.

Oficina foi um dos caminhos para conter, ainda que minimamente, os efeitos da crise; ideia é manter profissional atualizado e competitivo – Imagem: DIvulgação

O professor Toledo acredita, no entanto, que os universitários – principalmente da USP, por seu prestígio no mercado de trabalho – não são os mais afetados com a crise de desemprego. Ele defende que é possível que o Brasil perca capital humano para países desenvolvidos em razão de uma provável recuperação econômica mais rápida, porém a grande massa dos universitários brasileiros deve conseguir empregos por aqui.

Mas ele alerta, no entanto, para o risco de subemprego por parte de trabalhadores sem qualificação universitária em decorrência do aumento drástico no exército industrial de reserva, causado pela crise de desemprego. “A sociedade capitalista tem um potencial enorme, que tem muito a ver com a Universidade como força criativa. Mas como que um pobre se integra nessa sociedade? É muito mais grave para quem não chegou na USP.”