por Luis Nassif
Foto: Acervo pessoal
A nova edição do Jornal do Campus mantém a pauta diversificada, com características bem interessantes: seleciona os grandes temas atuais e mostra seus reflexos internos na USP.
Um tema relevantíssimo na formação dos futuros jornalísticos é o apego a princípios civilizatórios. Nesse campo, há um bom estoque de reportagens sobre valores.
As pautas identitárias são muito bem representadas pelas reportagens sobre Luiz Gama e sobre assédio sexual. Em Luiz Gama faltou a menção ao papel de sua mãe, uma liderança negra relevante. O recurso da linha do tempo sempre é didático em biografia ou em histórias com cronologia.
Na reportagem sobre assédio sexual soou um pouco forte a afirmação de que o abuso de mulheres é autorizado na instituição. Mas a matéria é oportuna. Poderia ter feito um boxe com uma seleção das afirmações machistas mais absurdas, muitas das quais se inserem no dia a dia dos homens, sem que eles se dêem conta.
Finalmente, a reportagem sobre bolsas de auxílio mostram um lado relevante da inclusão acadêmica. Não bastam cotas: é necessário auxílio financeiro. E, aos defensores do eficientismo a constatação de que os alunos egressos na Universidade serão a futura elite intelectual do país.
Outra pauta muito bem bolada foi sobre a pandemia, recorrendo a estudantes brasileiros em várias partes do mundo. É uma experiência que poderia ser estendida a muitos outros temas. Poderiam discutir currículos comparados, bolsas científicas, relação universidades-empresas.
Outro tema da atualidade – que tem na USP as melhores fontes – é a questão do Covid. A reportagem sobre anticorpos em lactantes é de interesse geral.
A reportagem sobre o vídeo Bob Cuspe é outro tema bem bolado. Ficaria mais rico se tivesse aproveitado o gancho para se estender sobre a indústria do audiovisual brasileiro, que estava em plena ascensão até o advento do período Temer-Bolsonaro.
A única pauta que ficou meio fora de prumo foi a sobre as Olimpíadas do Japão. Uma das características do Jornal do Campus é sempre buscar um gancho na Universidade. A das Olimpíadas foge a essa regra.
Mas a matéria mais relevante da edição – o instituto privado bancado pelo BTG Pactual no campus da USP, merecia maior aprofundamento. É um tema escandaloso! Simplesmente monta-se um instituto pago em pleno coração da USP, beneficiando-se do nome da USP, da proximidade com os melhores projetos de inovação da Universidade.
O BTG pretende simplesmente se apropriar da nata do conhecimento tecnológico da Universidade. Selecionará as melhores pesquisas, se beneficiará da proximidade com os institutos da USP. E, como instituição privada, terá condições de contratar os pesquisadores de seu interesse e apadrinhar as melhores startups.
Muito oportuno, também, o editorial, chamando a atenção para o papel da mídia e para os novos tempos de enfrentamento da violência presidencial.