Creche na EACH, promessa da greve ou sonho distante?

Após paralisação estudantil, Reitoria propõe creche na USP Leste, mas alunos veem obstáculos para a concretização da obra

Por Thais Morimoto

Mais de sete anos sem conseguir se formar. Essa é a realidade de Vanessa Amorim, estudante de Educação Física e Saúde na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), um curso com previsão de duração de quatro anos. Ela conta que teve uma filha no primeiro ano de graduação e, se tivesse uma creche no campus, sua graduação não teria atrasado — ou, pelo menos, não tanto assim.

Ilustração de uma criança buscando uma creche. [Yasmin Araújo]

Em alguns anos, pode ser que relatos como o de Vanessa não mais existam na USP Leste. A carta assinada pelo reitor Carlos Gilberto Carlotti no fim da greve afirma: “A universidade se propõe a construir o prédio de uma creche para a EACH”. Mas, de acordo com a Pró-Reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lucia Duarte Lanna, “o projeto de creche para a EACH está em fase inicial de estudos”. 

Atualmente, a comunidade da USP Leste pode tentar uma vaga na Creche Pré-Escola Saúde Pública, que fica a 24 km do Campus da EACH. Residente em Interlagos, Vanessa nem procurou uma vaga na Saúde Pública, sabendo que atrapalharia sua rotina. A estudante também não buscou uma creche perto de sua casa porque o horário de suas aulas não seria compatível com os da creche.

Mesmo aqueles que buscam a creche na Saúde Pública não possuem garantia de que conseguirão a vaga. Existem critérios socioeconômicos na seleção, como renda per capita da família e propriedade de bens móveis ou imóveis. Procurada para esclarecer essas questões, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento não respondeu às perguntas, que indagavam sobre a quantidade de alunos que precisam de creche na USP toda, quantas vagas terá a creche na EACH e o que uma pessoa da comunidade uspiana que precisa de creche e não consegue vaga pode fazer.

Burocracia e desmobilização

A ausência da creche no campus da USP Leste é justificada de várias formas. Um dos argumentos é a suposta contaminação do solo, que faria mal às crianças. A solução para o problema ainda não foi informada aos estudantes, o que inquieta Vanessa. Questionada, a Reitoria afirmou que a pergunta deve ser feita à diretoria da EACH, que, procurada por mais de cinco vezes entre 14 e 28 de novembro, não retornou às nossas tentativas de contato.

Felipe Sabino, estudante de Gestão Ambiental e membro de um movimento independente na EACH, afirma que a promessa da Reitoria foi feita para desmobilizar o movimento estudantil na USP Leste e que demorará anos para ter algum resultado, se tiver. O estudante ainda diz que, apesar de ser uma reivindicação da greve, existem outras pautas prioritárias para o campus que não foram abordadas nas negociações porque a Reitoria encerrou uma das mesas antes que representantes da USP Leste pudessem falar sobre suas demandas. “Não tem como priorizar a creche na EACH se não tem professor suficiente para a Universidade e se não tem política de permanência estudantil suficiente”, afirma.