Poli faz engenharia da diversão

Competição esportiva, brincadeira de criança, experimento científico. Os estudantes da Poli, em disciplinas obrigatórias e atividades extra-curriculares, aprendem sobre tecnologia enquanto se divertem com “carrinhos” e “aviõezinhos”. Parecem brinquedos, mas os aviões são protótipos de aeronaves de verdade e os carros são AGVs (veículos guiados automaticamente) – robôs que se movimentam sem interferência humana.

Os AGVs são construídos nas aulas de Nicola Getschko. O professor ressalta que “o lado lúdico é importante – eles fazem uma atividade extremamente complexa, e na verdade não estão pensando na nota, vão muito mais pelo estímulo que a competição favorece”. Quem acompanhou a segunda edição da COMPROVA (Competição entre Protótipos de Veículos Autônomos), no último dia 14, não tem a menor dúvida de que o lado esportivo da atividade é o que mais anima os alunos do terceiro ano dos cursos de Mecânica e Mecatrônica.

Os AGVs das 28 equipes precisam vencer obstáculos e completar uma volta numa pista de aproximadamente 2×3 metros. Os carros guiam-se por sensores óticos que reconhecem a linha escura que demarca a pista. Em pares, eles competem em sistema de perseguição. A cada rodopio ou desvio de rota, a reação da torcida varia de gritos a gargalhadas.

O AGV de Natal (foto: Marina Yamaoka)
O AGV de Natal (foto: Marina Yamaoka)

Só o visual dos carros já garante muitas risadas. Surgiram AGVs disfarçados de tanque de guerra, tupperware, caixa de correio e caixa de esfihas do Habib’s. O segundo colocado desfilou cheio de enfeites natalinos ao som de Jingle Bells. Um dos concorrentes chegou à pista fazendo suspense, coberto por um saco plástico. A platéia aplaudiu calorosamente quando foi revelada a surpresa: era o carro Super Mario. Tinha até trilha sonora de vídeo-game, mas o carro insistiu em não sair do lugar – game over.

Brincadeira levada a sério

Com as duas equipes de Aerodesign da Poli, a brincadeira é profissional. O trabalho envolve meses de dedicação e prêmios em uma grande competição nacional, a SAE Brasil Aerodesign, promovida pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade. Na 10a edição do evento, ocorrida em outubro em São José dos Campos, a equipe Poli Aclive Pece conquistou a quinta colocação e uma menção honrosa pelo projeto de engenharia. A Keep Flying foi a segunda colocada, garantindo um lugar na SAE Aerodesign East Competition de 2009, nos Estados Unidos.

As equipes são formadas por alunos de graduação de todos os cursos da Poli, que não tem um curso de Engenharia Aeronáutica (a USP oferece esta opção no campus de São Carlos). Os únicos integrantes de fora da universidade são os pilotos, campeões nacionais de aeromodelismo.

Os aviões rádio-controlados projetados na Poli são similares aos utilizados por quem pratica aeromodelismo como hobby: “A diferença é que nosso avião serve para carregar peso, e no aeromodelismo o importante é a manobra”, explica Marcos Bettini, capitão da Keep Flying. “Para fazer o aeromodelo, compra-se o kit pronto. Aqui a gente projeta uma aeronave totalmente baseada na engenharia aeronáutica, com literatura que a Boing ou a Bombardier, por exemplo, usam”, completa.

Tudo isso custa caro, e o trabalho das equipes não seria possível sem patrocínios. Não há como fazer a conta exata, pois grande parte do patrocínio é recebido em material, como fibra de carbono, mas o capitão da Poli Aclive, Sinjin Yano, estima que o gasto da equipe em 2008 esteja entre 35 e 40 mil reais.

Conseguir patrocínio não é fácil, mas a atual preocupação das equipes é com o local de trabalho. O espaço onde está instalada a oficina foi inicialmente destinado a um projeto de pesquisa do Laboratório de Engenharia Térmica e Energia em parceria com a Embraer. Com o início das pesquisas no ano que vem, as equipes de Aereodesign vão ocupar provisoriamente um galpão da Veterinária, que precisa ser reformado. O professor Antonio Mariani, orientador da Poli Aclive, já tem a planta da reforma, mas ainda é preciso aprová-la na Coesf (Coordenadoria do Espaço Físico da USP) e esperar pelo processo de licitação.

A nova oficina não agrada às equipes: “É bem menor, tem menos segurança e o acesso é mais difícil”, diz Yano. Para o professor Mariani, “o ideal seria a construção de um prédio para abrigar os projetos dos alunos, como o Aerodesign, o Mini Baja e a Milhagem, mas isso não é possível no momento”.

O avião premiado (foto: Marina Yamaoka)
O avião premiado (foto: Marina Yamaoka)