Navio de pesquisas do IO enfrenta problemas

Embarcação, usada para pesquisas, tem histórico de problemas, de furo no casco a incêndio

O navio de pesquisas do IO (Instituto Oceanográfico), Profº W. Besnard, volta esta semana para o porto de Santos, onde fica normalmente ancorado, após quase um mês na Base da Marinha no Rio de Janeiro. O navio estava na região para que a Capitania dos Portos averiguasse as causas do incêndio ocorrido em 13 de novembro, durante o Projeto Pró-Abrolhos.

Embora, até o fechamento desta edição, o inquérito não tivesse sido concluído, o responsável pelo Profº W. Besnard e assistente de apoio logístico do IO, Wilson Macedo, afirma que o acidente foi provocado por um curto-circuito em um ventilador velho de um dos camarotes. O incêndio, que durou 12 horas, se propagou pelo revestimento antigo do teto, feito de compensado e isopor. Outros quatro camarotes foram danificados.

Problemas antigos

Esse não é o primeiro problema enfrentado pelo Profº W. Besnard. Nos últimos anos, o navio, que tem 42 anos, vem enfrentando sucessivos problemas mecânicos, elétricos e em sua estrutura. Em 2007, a embarcação ficou três dias ancorada devido a problemas de propulsão e três dias à deriva em uma região de intenso tráfego de embarcações e próxima a uma plataforma de petróleo. De acordo com relatório produzido por funcionários do IO, nesses dias “o tempo permaneceu estável e calmo, caso contrário poderia ocorrer uma tragédia”. Técnicos da equipe do LIO (Laboratório de Instrumentação Oceanográfica) contaram que, em decorrência dos problemas, eles não se sentem seguros para embarcar no navio.

Nesse mesmo ano, o Besnard também teve um furo no casco, uma pane elétrica, motor e geradores paralisados. Além disso, ocorreram diversos atrasos nas saídas dos cruzeiros e problemas de acomodação, como falta de água potável no refeitório e laboratório, falta de salva-vidas e cobertores, e entupimento do sistema de esgoto.

Apesar de reformas feitas entre fevereiro e setembro de 2008 – que custaram R$1,3 mi – o Profº Besnard ficou novamente à deriva em outubro por causa de uma pane no motor. A diretora do IO, Ana Setúbal Vanin, foi procurada diversas vezes pela reportagem, mas se recusou a dar entrevistas, divulgando apenas uma nota geral sobre as circuntâncias do incêndio. Para Wilson Macedo, “apesar da preocupação em seguir todas as vistorias, o motor [comprado em 1999] não foi feito para ser instalado em um navio que tem só um sistema de propulsão”, como é o caso da embarcação do IO.

O relatório da empresa que fez o reparo do furo no casco em 2007 diz que “a chapa do local estava com a espessura comprometida devido à oxigenação excessiva”, que começou de dentro para fora pois a pintura interna não estava em perfeitas condições como a pintura externa. Macedo, entretanto, diz que foi feita uma vistoria obrigatória no casco em 2005, em pontos determinados pela Sociedade Classificadora de Navios, e que o “furo foi uma surpresa”, pois nada havia sido detectado.

O comandante do navio, Halvécio Moraes de Rezende, concorda que o quadro elétrico e o motor são deficientes, mas afirma que o navio estava em perfeito estado de segurança. Segundo ele, a parte elétrica estava sendo trocada aos poucos e a modernização total, programada para 2009, será adiantada e feita junto com os reparos das partes danificadas pelo incêndio. O navio será consertado em Santos e a seguradora arcará com os prejuízos.

Enquanto o navio não volta a funcionar, as equipes de pesquisas alugarão embarcações para concluir seus trabalhos em janeiro do ano que vem.

Novo navio

Muitos trabalhos desenvolvidos no IO dependem do navio Profº W. Besnard para serem realizados. Contudo, sua vida útil está acabando – apenas mais oito anos. Macedo diz que há um projeto de substituição da embarcação e que eles estão procurando recursos. Segundo ele, um navio como o atual custa R$ 50 mi. O Instituto ainda não tem previsão de quando ocorrerá a substituição.