Violência aflige comunidade uspiana

Estatísticas mostram grande incidência de furtos qualificados; segurança esbarra em desequipamento e má-vontade

Nos dois primeiros meses de 2009 a Guarda Universitária registrou 70 ocorrências no campus da capital. Foram três casos de agressão, oito depredações, duas apreensões de entorpecentes, três furtos de automóvel, além de sete roubos. Quase metade das ocorrências registradas dizem respeito a furtos qualificados (foram 29 apenas no mês de janeiro).

Os números divulgados pela guarda, no entanto, podem estar bem aquém da realidade: além dos casos que não são notificados, há ainda aqueles que ocorrem na região dos acessos, bem próximas dos portões, mas do lado de fora. A guarda universitária não registra dados sobre esse tipo de ocorrência, e a reportagem do JC não conseguiu essas informações junto à delegacia da região. No entanto, um levantamento sobre violência no campus realizado no Stoa (rede social da comunidade uspiana) chegou a dezenas de relatos sobre ocorrências nos acessos do campus, principalmente na região das portarias de pedestre.

O ex-aluno de artes cênicas Kemel Zaidan sofreu uma tentativa de assalto na quarta-feira, 8 de abril. Do lado de fora do campus, a menos de 50 metros do portão de pedestres do Mercadinho, ele foi abordado por dois rapazes de bicicleta, um deles sacou uma arma e pediu a bolsa. “Eu suspeitei que a arma era de brinquedo e resisti”, acuado por moradores do bairro que ameaçaram chamar a polícia, os bandidos golpearam a boca da vítima com o revólver e fugiram. A namorada de Kemel também já sofreu com a violência: ela foi agarrada na mesma região, assustada, ela gritou e recebeu abrigo de um morador, enquanto o bandido fugia. Kemel critica a atuação da guarda do campus: “a impressão que fica é que eles estão lá pra vigiar, e não para proteger a comunidade”, disse por telefone.

O pós-graduando da biologia B.V (que preferiu não se identificar) também foi assaltado enquanto saia de bicicleta do campus, na frente da saída de pedestres da ponte da Cidade Universitária, em outubro do ano passado. Ele foi abordado por três homens de bicicleta que pareciam estar armados, eles levaram carteira, celular e uma mochila com materiais de treino esportivo. A vítima procurou o guarda da portaria, que não pode fazer nada, “nem chamar outro guarda ele chamou, pois seu rádio não tinha pilhas, e não parecia estar interessado em me ajudar”, lamentou. Após caminhar até o portão 1, ele foi orientado a procurar a delegacia mais próxima.

Há muitos anos existe a discussão sobre a entrada da polícia militar no campus. O argumento mais usado a favor da medida é o fato da guarda universitária não ter poder de polícia e só poder atender a ocorrências dentro do campus. Contra a entrada da PM no campus há argumentos que dizem que isso restringiria a autonomia universitária e facilitaria a repressão a manifestações e protestos, como ocorreu nos anos de ditadura militar (veja análises abaixo).

Apesar da Guarda Universitária não ter poder de policia, é importante notificar ocorrências à vigilância, para que casos parecidos sejam investigados e possa haver melhor planejamento de segurança. O telefone de emergência é o 3091-4222. Há ainda um serviço de denúncias anônimas, no site da guarda: www.usp.br/vigilancia. No caso de ocorrências do lado de fora do campus, é recomendável procurar a delegacia mais próxima ou chamar o 190.