Histórias do Crusp e de cruspianos

Cruspianos, no final da década de 60: curiosa história de lutas políticas (foto: Reprodução)
Cruspianos, no final da década de 60: curiosa história de lutas políticas (foto: Reprodução)
Um frequentador muito politizado

Jorge Miguel é facilmente encontrado no Crusp fazendo seu trabalho de pesquisa para a União Nacional dos Estudantes (UNE). Ele freqüenta o conjunto habitacional pesquisando suas histórias e sua importância para o movimento estudantil. Está escrevendo um livro chamado Isto é o Crusp. Para Miguel, esse lugar está intimamente ligado ao movimento estudantil, principalmente na luta contra as ditaduras.

O local foi usado como um asilo de proteção a muitos militantes procurados pelo regime militar, por isso, como diz Miguel, depois de 68 ele se tornou um local de “caça” para o exército. Somente em 1984 a Universidade retomou o espaço, mas os estudantes perderam autonomia: “Em uma festa realizada em setembro daquele ano, dois alunos brigaram no quarto andar e, como as paredes eram de compensado, acabaram caindo e morreram, ai a autogestão tremeu e pediram apoio da reitoria”, conta Miguel.

Ele diz que “o Crusp tem se tornado um lugar cada vez mais elitista, com moradores selecionados através de critérios duvidosos, criando um espírito muito individualista”. Para Miguel a solução que o conjunto preciso é a cogestão entre Universidade e moradores, buscando equilibrar os interesses presentes na USP. Além disso,”é preciso retomar o espaço como local de vivência política, mais do que uma mera moradia” conclui.

Um porteiro e pai pros moradores

De boina escura e casaco, munido de uma pequena lupa, guardada sob o balcão da recepção, o Sr. Valdemar faz lembrar Sherlock Holmes. Porém, a lente de aumento não é usada para resolver mistérios. Apesar dos grandes óculos, a vista já não ajuda muito, então a lupa está lá para permitir que o porteiro alimente sua paixão pela leitura.

Aos 46 anos, Sr. Valdemar é casado, pai de três filhos, sendo que o caçula tem três anos. Paulistano nascido em Moema “quando o bairro ainda não era de luxo”, como ele diz, planeja ainda fazer faculdade de Geografia ou Letras. Porteiro do Crusp há 25 anos, conquistou muitos colegas entre os moradores. Muitos param na portaria para conversar com ele, que fez questão de sair de trás do balcão para dar um abraço de boas-vindas a uma moça que teria se ausentado do Crusp por alguns meses, devido a um tratamento de saúde. “Acabo me sentindo um pouco pai deles”, afirma.

Sr. Valdemar diz que pode reconhecer os alunos menos estudiosos pela rotina e pela quantidade de anos que permanecem na Universidade. “Tem gente que chega tão embriagada que só consegue subir as escadas porque elas têm corrimão”, brinca.