USP investe em medidas sustentáveis

Plano de construção de prédio “verde” e inauguração da estação de tratamento de esgoto evidenciam preocupação ambiental

Biodigestor, matéria orgânica reciclada, água de chuva reaproveitada, madeira certificada. Todos esses itens integram um vocabulário relativamente novo sobre sustentabilidade e poderão ser encontrados em três anos na primeira edificação “verde” a ser construída na USP, o Centro de Estudos de Clima e Ambientes Sustentáveis (Ceca). O prédio é uma iniciativa pioneira na América Latina e irá gerar toda energia que consumir.

O plano do projeto foi aprovado em dezembro passado e será desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) e outras unidades. Ao total, quinze pessoas entre professores e estagiários estão envolvidas no Ceca, que se localizará entre a rua do Matão e a travessa V. O custo estimado pela equipe é de R$ 20 milhões. Desse valor, R$ 5 milhões já foram anunciados pela Reitoria. O restante deverá ser pago pela Universidade e por possível investimento da iniciativa privada.

Segundo Marcelo Romero, idealizador do projeto e professor da FAU, a intenção é enquadrar a construção ao conceito de sustentabilidade – que abrange redução de água e energia, escolha de local apropriado, uso de materiais de construção que impactam menos o meio ambiente e a qualidade ambiental interior.

Para isso, o Ceca conta com tecnologias verdes, como o esfriamento do ar pelo solo (rede geotérmica subterrânea), energia elétrica obtida pela captação solar (placas fotovoltaicas), películas filtradoras de raios ultravioletas nos vidros, sombreamento externo por persianas automáticas, entorno opaco (paredes) com inércia térmica, entre outros itens que serão, em sua maioria, automatizados. Vale destacar que está previsto ainda o uso de um biodigestor anaeróbio, equipamento que utiliza esgoto para obtenção do biogás que será utilizado na iluminação externa do prédio.

Mais ações ecológicas

Romero vê uma preocupação cada vez maior com o meio ambiente por toda USP. Há outras iniciativas, como o selo verde – uma das certificações da Comissão de Sustentabilidade do Centro de Computação Eletrônica (CCE) para tratamento do lixo eletrônico. O selo prevê que os computadores devem ser produzidos livres de chumbo e metais pesados e que sigam as diretrizes RoHS (legislação europeia que proíbe o uso de algumas substâncias tóxicas na fabricação de equipamentos), as certificações ISO 14001 de gestão ambiental e ISO 9001 de qualidade. Inicialmente, o selo foi dado a desktops e notebooks adquiridos pelo CCE. A ideia, no entanto, é conseguir ampliar o leque de equipamentos certificados.

Outra iniciativa parte da Prefeitura do Campus, que há dez anos utiliza uma composteira de resíduos orgânicos , que transforma o material em adubo a ser utizado na própria Cidade Universitária. A reciclagem é mote também da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), inaugurada no dia 29 de março na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), que tratará dois terços do esgoto da USP Leste. A água tratada será reaproveitada para irrigar jardins e lavar pisos. Para o engenheiro José Eduardo Sonnewend, responsável pela obra, o fato do campus ser novo e ter nascido com outra ideologia facilita a implementação deste tipo de projeto. “Desde o começo, o tema sustentabilidade foi pensado [na USP Leste] e isso muda a estrutura da escola, até seu aspecto físico”, afirma Sonnewend.

Questionado sobre a aplicabilidade deste tratamento na Cidade Universitária, o engenheiro acredita que os resultados da USP Leste poderão servir de incentivo para mudança da rede hidráulica do campus Butantã – onde, atualmente, o esgoto é lançado na concessionária Sabesp e somente parte dele é tratada. Para Sonnewend, a diminuição do consumo de água potável é imprescindível para manutenção ecológica das velhas estruturas da Cidade Universitária. “Uma vantagem é que a água usada para irrigação de jardins é retirada da raia olímpica”, ressalva.

Outro empreendimento que procura usar materiais de baixo impacto ecológico é a casa modelo, que será desenvolvida pelo docente Adnei de Andrade, do IEE, para participar do concurso Solar Decathlon Europe, em Madri, no ano que vem. A casa, feita de madeira, produzirá toda energia que consumirá através de painéis solares. Desmontável, ela será exposta pelo país após a competição.