Leis de proteção ambiental devem impactar usuários de fretados

Segundo a especialista em mudanças climáticas da USP Maria Elisa Siqueira Silva, medidas devem ser implementadas com cautela para não inflar transporte público

Em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, sancionou uma lei que prevê medidas para que a cidade colabore com ações de preservação do meio ambiente. Dentre elas, está o controle das emissões de gases causadores do efeito estufa, com meta de reduzir 30% da liberação destes gases até 2012. Outras medidas serão implementadas, como a ampliação dos sistemas de coleta seletiva de lixo e a instalação de 96 ecopontos – específicos para o destino de resíduos de grande volume. A lei pretende ainda reduzir o uso de diesel e gasolina nos transportes públicos.

A lei até então não previa uma regulamentação para ônibus fretados, que prestam serviços a moradores de cidades da região metropolitana e de bairros da periferia da capital. No dia 29 de junho, foi divulgada a restrição de circulação destes ônibus no centro expandido da capital – lei que já restringia a circulação de caminhões há um ano.

Para a especialista em mudanças climáticas Maria Elisa Siqueira Silva, doutora da Faculdde de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a restrição à circulação de ônibus fretados foi mal planejada, pois ainda não há excelência no fornecimento de transportes públicos para a população. “Se o intuito é colaborar para a redução de emissão dos gases causadores do efeito estufa, a medida pode ter tido o efeito inverso”, observa a doutora, uma vez que muitos utilizadores deste transporte poderão fazer uso de carro para chegar a seus destinos.

Ela aponta que as Secretarias do Meio Ambiente e do Transporte devem pensar, em conjunto, em como atingir a meta de redução dos gases, sem esquecer de traçar “soluções para viabilizar o trânsito caótico da capital”.

A lei ainda prevê a criação de bolsões de desembarque de passageiros para que eles concluam seus trajetos por meio de trens ou metrô. Maria Elisa acredita que, caso as melhorias nestes transportes sejam feitas, o projeto pode dar certo. “Com o aumento do número de trens e ampliação da malha ferroviária, conseguiremos alcançar a meta de redução. Sem isso, é trocar seis por meia dúzia”, finaliza a especialista.

No país

O governo federal também lançou recentemente um plano nacional para analisar as mudanças climáticas pelos quais o planeta passa e como o Brasil pode atuar. Os principais objetivos são reduzir das emissões de gases, também contemplada na lei paulista, e reforçar os sumidores de carbono (florestas) no país. A proposta visa também apoiar medidas regionais de preservação do meio ambiente, principalmente em áreas que sofram mais com as adversidades das mudanças climáticas.

O professor Humberto Rocha, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) acredita que o plano é bem abrangente, mas precisa de políticas sérias por parte do governo federal para entrar em ação. “Mexer com a Amazônia, por exemplo, pode envolver grandes brigas com agricultores e pecuaristas”, cita. “Mas já vemos mudança de pensamento como o boicote de grandes redes de supermercados à carne produzida no Pará”, conclui.