Copa e Olimpíada colocam Brasil à prova

Eventos atraem investimento em infraestrutura, mas futuro das instalações e da política esportiva no país é incerto

A escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 confirma a realização, em um período pouco maior que dois anos, dos eventos mais importantes no calendário esportivo mundial no Brasil.

Por enquanto, a maior parte das ações demonstradas pelos governos e comitês organizadores da Copa do Mundo e das Olimpíadas giram em torno das obras infra-estruturais e dos complexos esportivos. Contudo, há a preocupação de que esses locais se transformem em espaços subutilizados.

Nos estádios da Copa do Mundo, o maior temor é com as cidades sem muita tradição no esporte. A solução mais apontada para o caso é a transformação do local em um espaço multiuso.

“Os estádios não serão mais órgãos públicos, mas empresas comerciais administradas profissionalmente em que o futebol será apenas parte das atrações a serem oferecidas”, afirma Eduardo Castro Mello, arquiteto e membro do Nutau/USP (Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo).

Quanto aos complexos olímpicos, a intenção é não repetir os maus exemplos do Pan de 2007 (leia mais). “Acredito que a cultura do legado e da sustentabilidade estará consolidada. O uso estratégico de instalações temporárias e/ou desmontáveis será uma realidade, a exemplo do que vem ocorrendo nos projetos de várias instalações para os Jogos de Londres 2012”, conta Fernando Telles, membro do Nutau, engenheiro civil e atleta olímpico nas edições dos jogos em 1956 e 1960.

Acesso ao público

Há também a possibilidade que alguns dos complexos sejam disponibilizados ao público após as competições. Conforme Bruno Padovano, arquiteto e coordenador do Nutau, Londres mais uma vez apresenta uma resolução: boa parte das obras será erguida em uma região carente, equilibrando a oferta de equipamentos esportivos de grande porte na cidade.

Além desses fatores, para o jornalista esportivo Breiller Pires, o dimensionamento dos jogos conforme a realidade brasileira é fundamental. “O Brasil tem que a fazer a Copa e a Olimpíada para os brasileiros, não para mostrar e se gabar para o resto do mundo. É maneirar a mão no orçamento para construir um estádio, e repassar uma verba maior ao incentivo do esporte universitário, por exemplo”, diz.

O legado esportivo

As preocupações com as construções, porém, superam quaisquer outras necessidades conseqüentes da realização de grandes competições esportivas. “Nós teremos instalações esportivas muito boas, não tenha dúvida disso, mas nós não teremos esporte organizado para colocar nelas”, afirma Paulo Calçade, comentarista esportivo do canal ESPN Brasil e professor da EEFE.

Segundo Calçade, falta incentivo às bases do esporte no país. “Exceção feita ao futebol, os grandes esportistas brasileiros não passam de fenômenos isolados. Falta planejamento de longo prazo no esporte. É preciso investir nas escolas municipais e estaduais e nelas apresentar e estimular a pratica de diferentes modalidades”.

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Cinco números olímpicos do Rio-2016 (arte: Tucas Tófoli Lopes/Priscila Jordão)