Trajetória na USP impulsiona políticos

Centros Acadêmicos, movimento estudantil e carreira docente criam espaço para visibilidade partidária

No dia 28 de setembro, a reitora da Universidade de São Paulo, Suely Vilela se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). “Ao me filiar ao PSB, meu propósito é o de contribuir com plataformas educacionais para o partido”, afirmou a reitora ao Jornal do Campus. “O planejamento político para uma possível candidatura só será pensado após eu deixar a Reitoria”, o que ocorrerá no final desse ano. Ao ingressar na carreira política após sua passagem pela USP, Vilela segue uma trajetória já conhecida na história da Universidade e se junta a vários outros nomes da política nacional brasileira.

Entre os ex-reitores mais bem-sucedidos em sua passagem para a política nacional estão Alpínio Correia Neto, candidato à vice-presidencia em 1950; Luis Antônio Gama e Silva, ex-Ministro da Educação que ficou marcado pela instituição do AI-5; José Goldemberg, Ministro da Educação durante o governo Collor; e Lineu Prestes, prefeito de São Paulo entre 1950 e 1955 e senador entre 1957 e 1958.
(ilustração: Naíma Saleh)

Movimento Estudantil

Esse não é, no entanto, o único caminho que induz à vida política dentro da Universidade de São Paulo. Muitos dos nomes mais conhecidos das plenárias e congressos passaram longe da reitoria. Seja em Centros Acadêmicos, Grêmios ou Diretórios, cada curso e unidade da USP oferece uma gama de opções para quem quer exercer sua ‘veia política’ ainda como graduando.

“Comecei minha vida política no grêmio politécnico. Me candidatei a diretor do grêmio e fui eleito quatro vezes. Lá minha veia política começou a ser estimulada”, afirmou Paulo Maluf (PP), ex-prefeito da cidade de São Paulo, em entrevista ao G1. É o caso de outras figuras marcantes, que representam a variedade ideológica que convive no campus, como o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB), também ex-politécnico, e o pré-candidato à presidência, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), formado pela Faculdade de Direito da USP. O atual ministro da educação, Fernando Haddad (PT) também se formou nela.

Originário da França do século XV, o movimento de estudantes retornou com mais força na década de 1960. O Maio de 68 na França inspirou estudantes de várias partes do mundo a se revoltarem também, como na Itália, na Polônia, na Alemanha. No Brasil, a luta iniciou-se contra o Golpe Militar de 1964. Estudantes e professores foram perseguidos, alguns mortos e outros exilados. Neste mesmo ano, a UNE foi declarada ilegal. Ela só retornou em 1979, com apoio popular, a fim de mobilizar-se para a redemocratização. Muitos dos estudantes exilados, que voltaram no fim da década de 70, hoje são figuras públicas famosas no país.

Políticos Franciscanos

Quase um terço dos presidentes do Brasil, desde 1889, são formados na Faculdade de Direito da USP – além de Júlio Prestes que, apesar de eleito, não tomou posse. O único uspiano que ocupou o cargo sem ter passado pela São Francisco foi Fernando Henrique Cardoso, sociólogo pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas.

A Faculdade, criada em 11 de agosto de 1827 (data que dá origem ao nome do Centro Acadêmico), a princípio teve como objetivo formar governantes e administradores, necessários com a recente Proclamação da Independência. A tradição política não se perdeu com os anos. Das dependências das Arcadas saíram movimentos importantes, como resistência à ditadura Getúlio Vargas e ao Golpe Militar, além das idéias iniciais das Diretas Já.

Até hoje a disputa pela gestão do Centro Acadêmico é calorosa e envolve não só os candidatos, mas todos os estudantes da instituição. “Fazer parte do XI (de Agosto) abre uma grande possibilidade de atuação dentro da universidade”, afirmou Thales Gomes da Silva Coimbra, diretor de Comunicação da recém eleita 108ª gestão.

“Seu trabalho rende muitos frutos para os alunos e você percebe que há a possibilidade de fazer a diferença”, completou. Em relação ao contexto nacional, Thales confirma que, de fato, sua entrada no Centro Acadêmico o fez enxergar certa similaridade entre o cenário político brasileiro e a política acadêmica. “A política agora não parece tão distante”, disse. Sobre uma possível atuação posterior no cenário nacional, diz que o futuro é incerto e que, por enquanto, pretende se concentrar na política interna da Faculdade. Segundo ele, no entanto, esse tipo de experiência é algo que se leva para toda a vida. “Fazer política é acreditar em ideais e defendê-los onde quer que você atue”.

Nota
O JC entrou em contato com mais de dez docentes da Universidade a fim de saber a opinião destes sobre o fenômeno analisado na reportagem. No entanto, nenhum dos professores quis se manifestar sobre o assunto.