Cotas se justificam para garantir representação

Para o professor associado da Faculdade de Educação da USP, Romualdo Portela de Oliveira, as cotas no ensino superior são um mecanismo de correção de distorções em um processo que já é seletivo e se justificam quando um determinado grupo da sociedade é subrepresentado na composição dos ingressantes nas universidades em relação à sua representação real na população.

O professor afirma ser favorável aos programas de cotas, especialmente aqueles direcionados a alunos provenientes da escola pública, por serem “mais objetivos e menos controversos”. Apesar de defender uma parcela de cotas para afro-descendentes, por se constituir em uma política de aumento de representação, Oliveira afirma acreditar existir uma sobreposição muito grande entre alunos de escola pública e afro-descendentes.

O professor salienta também a eficiência dos programas de cotas em um contexto de expansão de vagas, como demonstra a experiência norte-americana. “Com a instalação de cotas sobre o aumento do número de vagas, quem entraria na universidade não deixa de entrar, então é possível viabilizar politicamente a proposta e enfrentar resistências”, diz.

Oliveira afirma não enxergar oposição entre democratização do acesso à universidade e preservação da qualidade de ensino, além de salientar a natureza incerta do vestibular. “As cotas não trazem nenhum problema que já não tenhamos; mesmo sem cotas, corre-se o risco de ser aprovado no vestibular um aluno que não domina o conteúdo suposto no ensino médio”, diz.

O professor cita um programa do Instituto de Física da USP cujo objetivo é criar condições para o acompanhamento do curso para aqueles alunos cuja nota de aprovação no vestibular é abaixo da desejada. “Essa é uma resposta de boa qualidade para um problema real, existe uma reclamação generalizada entre professores de que os alunos de hoje possuem uma pior formação escolar; se o aluno precisa de nivelamento, cabe à universidade garantir essas condições”, afirma.