Institutos restauram bens culturais

Preservação de patrimônio cultural está na agenda de institutos e museus universitários

O Centro de Preservação Cultural (CPC), o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e o Museu Paulista (MP), todos pertencentes à USP, promovem projetos de restauração e de preservação do patrimônio histórico e cultural público. Como aponta Maria Lúcia Bressan Pinheiro, professora doutora da FAU-USP e atual diretora do CPC, trata-se de um “fator de formação de identidades e da cidadania”.

Pinturas murais

Localizado na histórica casa de D.Yayá, o CPC passa por uma fase de reestruturação com o encerramento de seu programa de restauração de pinturas murais. O motivo é a saída da coordenadora do projeto, a arquiteta Regina Tirello, para assumir o cargo de professora em tempo integral na Unicamp.

Trabalho de restauro revela preferência estética da década de 30 (foto: Acervo CPC/USP)
Trabalho de restauro revela preferência estética da década de 30 (foto: Acervo CPC/USP)

Regina define o antigo programa de pinturas murais como pioneiro ao unir metodologia de preservação e restauro com educação para capacitar equipes de alunos de graduação.

De acordo com a arquiteta, as pinturas murais deixaram de ser habituais por volta dos anos 30, com a chegada da arquitetura moderna e o advento das tintas monocromáticas.

Maria Lúcia acena a reorganização das atividades do CPC para um sentido mais abrangente, que atue na preservação dos edifícios da USP através de uma rotina de avaliação. O novo programa pretende evitar a restauração e as intervenções mais agressivas no patrimônio público.

“A rotina de avaliações é mais frutífera a longo prazo, em termos econômicos e em manutenção permanente. Existem, nos bens tombados, carências básicas, falta de informação sobre condições prediais, plantas de cobertura, de instalações elétricas e hidráulicas, necessárias tanto para vistorias como para eventuais emergências”, afirma a professora.

O IEB, por sua vez, possui 48 anos de existência. Apesar disso, há apenas dez anos foi constituído um laboratório de restauração. “Fazemos um verdadeiro trabalho de equipe”, salienta a coordenadora do laboratório, Lúcia Thomé, que conta com o trabalho de apenas uma funcionária, Cibele Monteiro, e de sete estagiários, alunos dos cursos de História, Geografia e Letras.

“Há muita coisa acumulada para passar pela equipe ainda; trabalhamos atualmente com um acervo do instituto de 3.000 livros raros pertencentes a Alberto Lamego, cuja coleção inclui a primeira edição dos Sermões do Padre Antônio Vieira, do século 17. Para tanto, dividimos nosso trabalho em lotes de 30 livros”, diz Cecília Riquino, estagiária do laboratório.

Parcerias e inovações
Pintura de parede da Casa de D. Yaya em restauração (foto: Acervo CPC/USP)
Pintura de parede da Casa de D. Yaya em restauração (foto: Acervo CPC/USP)

Além do acervo do instituto, o IEB recebe material de outras fontes. Em 2005, por exemplo, sob decisão da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, todo o acervo pessoal do banqueiro Edmar Cid Ferreira foi distribuído entre as unidades da USP. O IEB recebeu, em guarda provisória, cartas cartográficas e exemplares de literatura popular, que incluíam gravuras, xilogravuras e literatura de cordel.

As péssimas condições das peças, as quais estavam estocadas em um galpão que chegou a sofrer enchentes, impediam o trabalho da equipe por questões de saúde. “Havia lama, fungos e cupim por todo o acervo”, afirma Cibele. Isso incentivou uma parceria com o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) em estudos que uniram restauração e física para a esterilização do acervo.

“Foi um trabalho de emergência, inovador. Havia um grande preconceito com o uso da física nuclear para restauração; essa metodologia não agride o meio ambiente e, ao contrário do que se pensa, nem as obras, nem os profissionais”, diz Lúcia.

Duplicação de peças

Museu Paulista duplica vestuário do início do século XX (foto: Projeto Replicar – MP/USP)
Museu Paulista duplica vestuário do início do século XX (foto: Projeto Replicar – MP/USP)
Assim como o CPC e o IEB, o Museu Paulista restaura peças com alto valor histórico e cultural. O programa do MP inclui a recuperação de fotografias, pinturas e têxteis.

“O trabalho direciona-se principalmente para o acervo do museu, que é enorme”, diz Teresa de Paula, atual supervisora da área de conservação e restauro do museu. Eventualmente, a equipe recebe também trabalhos externos. O setor de têxteis, por exemplo, procede atualmente a duplicação de uma indumentária feminina do início do século XX, a qual será exposta numa fazenda do interior paulista.

“A contrapartida para o museu aceitar o pedido foi a contratação de bolsistas e o auxílio às pesquisas”, afirma Teresa. O projeto conta com uma consultoria externa e com a colaboração de quatro bolsistas.

Além de manter os procedimentos de rotina, como o  reparo de telas de pintura e a restauração de fotografias, o MP pretende ampliar seu campo de ação. “Temos previsão, inclusive em termos de espaço físico, para fazer restauração em papel e madeira”, diz Teresa. “Só não está funcionando por falta de funcionários.”