FFLCH é acusada de pirataria

Uma denúncia anônima foi divulgada no começo de abril, acusando a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) de usar e distribuir softwares piratas em suas dependências, um crime previsto em lei. A FFLCH investigou a denúncia e o JC apurou que a maioria das reclamações era falsa: dos cinco locais citados pela carta, apenas um confirmou usar parcialmente softwares de edição não licenciados. Todos os outros tinham os computadores travados para instalação de programas ou faziam serviços técnicos, como conexão de cabos e sistemas de som.

A denúncia foi uma surpresa para a técnica do Laboratório de Ensino e Material Didático (LEMAD), Valdirene Ribeiro do Carmo, citado na carta. Como os computadores são travados, o único programa de edição de imagens disponível é o limitado Paint Brush. “Tenho que levar o trabalho para casa quando temos que fazer uma edição mais elaborada e usar o Photoshop ou o CorelDraw”, lamenta.

Outra unidade que tem os computadores travados para programas ilegais é a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), mas isso não se tornou um problema para seus usuários. O responsável pelo Sistema Técnico de Informática da unidade, Luiz Eduardo Iadocicco, afirma que todos os softwares utilizados nos cinco laboratórios de informática são licenciados. “Compramos em torno de 40 licenças para cada software, o que sai em média 30 mil dólares por programa”.

Nem todas as unidades da USP têm computadores travados. Como a pirataria é fácil, o preço dos softwares é alto e a fiscalização é inexistente, a prática tornou-se comum em muitas faculdades. Nos laboratórios de informática da Escola de Comunicações e Artes (ECA) o uso de softwares piratas é comum, principalmente os de edição gráfica. Na Faculdade de Educação (FE), funcionários também admitem ter que usar softwares piratas para poder trabalhar. O funcionário T.M., que não quis ser identificado, lamenta a falta de opções: “os softwares originais são muito caros, e os (softwares) livres são limitados. Ficamos sem saída”.


Software livre, proprietário e comercial (infográfico: Felipe Lobo)Software livre

Uma alternativa para a pirataria é o uso de softwares livres. Segundo Felipe Sanches, integrante do PoliGNU (grupo de estudos de softwares livres da Poli), a universidade deveria utilizar somente softwares livres, uma vez que a liberdade de modificar um software é essencial no desenvolvimento de pesquisas, onde operações que nunca foram previstas precisam ser realizadas. Ele ainda traça um paralelo entre a cultura da academia e a do software livre: “A priori elas são similares; em ambas há a valorização do conhecimento e a avaliação por pares, ou seja, uma pessoa avaliando a outra pelo trabalho em si, e não pela estética”.

Além disso, Felipe aponta as vantagens financeiras dos softwares livres, que na maioria das vezes são gratuitos. Ele explica que a adoção de softwares proprietários pela universidade faz com que os estudantes sejam forçados a comprar ou piratear os mesmos, já que os arquivos gerados em um software proprietário têm um formato
secreto, que não pode ser aberto em nenhum outro software, seja ele livre ou concorrente. “É justo que a USP, uma universidade pública, adote uma política que fará com que os alunos tenham que comprar um software?”, diz Felipe.