Cinema pouco é bobagem

(ilustração: Lilia Quinaud)
(ilustração: Lilia Quinaud)

Cinema na USP não se resume ao Cinema da USP (Cinusp). O Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR), da Escola de Comunicações e Artes, destaca-se com grande produção na área. A veiculação desses filmes, porém, é um desafio e costuma ser superado pela exibição em festivais pelo país e até no exterior. Mas, pensando no público universitário, os alunos do CTR organizam a Semana do Audiovisual (SAV), que está em sua 10ª edição e ocorre entre os dias 16 e 19 deste mês. A Semana procura agregar a produção dos alunos, normalmente fruto de trabalhos curriculares. Participam estudantes de outras faculdades, principalmente da FAU.

O professor do curso de Audiovisual, Luiz Dantas, conta que a produção semestral do CTR equivale, em dias de filmagem, a dois longa-metragens. Algumas dessas produções fazem sucesso, como The Matrix: Low Budget, que recebeu mais de 179 mil visualizações no YouTube. Os alunos também participam de concursos e festivais com o apoio do departamento. “A gente apoia com o que puder”, diz Dantas. No ano passado e neste ano, alunos do Audiovisual ganharam um concurso de roteiros promovido pela rede de cinemas Cinemark e entraram em produção. Em 2009 o ganhador foi o curta Menu, de Camila Luppi. Neste ano, foi Final Feliz, de Ana Beatriz Gonçalvez, que está sendo realizado.

A grande produção apresenta dificuldades. Para a professora Patrícia Moran, o CTR tem um “aperto” de tempo e outro de estrutura, “porque a gente oferece estrutura de produção e uma verba em dinheiro e como os alunos participam de todos os filmes eles também não dão conta de mais trabalhos. A gente funciona num cronograma bastante organizado para tentar atender o máximo possível.”

Apesar do curso de Audiovisual pretender abranger produções de vários formatos, é comum que os trabalhos sejam para cinema. “Aqui originalmente era um curso de cinema. A maioria dos professores está muito vinculada ao cinema e também os alunos. (…) Essa foi a primeira escola de cinema do Brasil, você não muda uma tradição de quarenta anos em três”, diz Moran.

Trabalho em grupo

O cinema pode agregar alunos de várias áreas. É comum alunos de artes plásticas serem diretores de arte, por exemplo. Dantas conta que “essa integração é não-dita, mas acontece todo dia com a Escola de Artes Dramáticas e com o Departamento de Artes Cênicas (CAC)”, de onde vem a maioria dos atores que participam dos filmes. Luís Fernando Angerami, diretor do CTR, confirma que vem conversando com os colegas das artes: “estamos fazendo reuniões para detalhar as possibilidades de integração”. Vania Debs, também professora do audiovisual, fala das possibilidades: “o CAC pode oferecer disciplinas especificamente para alunos de cinema, ou o cinema oferecer ‘direção’ para o ator aprender a trabalhar diretamente para a câmera”.

Alunos da ECA produzem o curta "Final Feliz" (foto: Divulgação)
Alunos da ECA produzem o curta "Final Feliz" (foto: Divulgação)
Tentativa e erro

A Universidade é um lugar propício a experimentações. Isso se reflete nas produções dos alunos. Entretanto, Dantas não concorda em opor o mercado de cinema a essas inovações: “uma história bem contada funciona em qualquer mercado.” Ele aborda a questão de outro ângulo: “se você pensar no cinema de indústria, ele muito inteligentemente sempre fez uso do cinema de vanguarda”.

A Semana

A organização recebe trabalhos para serem apresentados na SAV até o próximo dia 13. Eles serão exibidos durante as tardes no auditório do departamento, enquanto que pela manhã serão feitos debates com convidados. Elton Almeida, aluno do Audiovisual envolvido na organização da Semana, comenta que “é difícil [os filmes] ficarem bons no início, porque a gente está aprendendo. Os exercícios mais sérios mesmo são o Cine, do terceiro ano e o TCC”. Ele diz que quando o trabalho se destaca pela qualidade, uma opção encontrada por muitos alunos é a participação em festivais, como o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que neste ano foi sediado na USP, em agosto. “Para aqueles [filmes] que têm a possibilidade de uma vida além da Universidade, o departamento faz um investimento maior em finalização”, acrescenta.