Alunos alegam sofrer repressão também em aulas e assembleias

Mesmo não sendo vítimas de bullying, há uspianos que reclamam sofrer outras formas de repressão no ambiente acadêmico. Salas de aula e assembleias estudantis, principalmente, mostram-se, segundo estudantes, lugares em que a pluralidade de opiniões é cada vez menos bem-vinda.

Fernando Araújo Soares (nome fictício), de 34 anos, estudante de Filosofia, diz-se vítima de repressão em uma aula que frequentava na Faculdade de Educação (FEUSP), obrigatória para sua licenciatura. O aluno alega ter sido agredido verbalmente pela professora Marília Pinto de Carvalho e, em seguida, empurrado para fora da sala de aula por ela no dia 5 de abril. “Eu estava fazendo uma apresentação para a sala e nós discordamos em uma questão. Em seguida, ela me impediu de falar e, por isso, eu optei por me retirar da aula. A partir daí, fui incentivado por ela, que me segurou pelo braço e me empurrou para fora”, explica o estudante.

Segundo boletim feito por seu médico, Fernando está sofrendo de estresse pós-traumático desde o ocorrido na FEUSP. O aluno não retornou às aulas das disciplinas da Licenciatura e diz não ter sido procurado pela unidade para que medidas fossem tomadas. O médico de Fernando solicitou que suas aulas fossem ministradas de forma particular, mas a FEUSP apenas optou por mudá-lo de turma. A alternativa não apetece o estudante, uma vez que o estresse pós-traumático também se deve à humilhação que ele diz ter sofrido diante de seus colegas, que ainda o encontrariam se Fernando frequentasse aulas coletivas.

A professora Marília Pinto de Carvalho desmente a situação e se diz preocupada com a saúde de Fernando. “Essa situação não aconteceu, não houve qualquer agressão ou ameaça naquela aula. Os outros 70 alunos presentes na sala de aula podem declarar isso”, diz. Lisete Arelaro, diretora da FEUSP, declarou ao Jornal do Campus que a Procuradoria Geral da USP abriu uma sindicância – a pedidos da professora Marília – para apurar o caso. “O aluno diz ter sofrido agressão e a professora desmente o ocorrido. A abertura de uma sindicância é o procedimento normal, justamente para sabermos o que aconteceu de verdade”. Segundo a diretora, ainda houve a tentativa de marcar uma entrevista com Fernando para saber como lidar com o cumprimento das disciplinas em que ele está matriculado, mas o aluno não compareceu.

Laudo médico de Fernando aponta estresse pós-traumático (foto: Rafaela Carvalho)
Laudo médico de Fernando aponta estresse pós-traumático (foto: Rafaela Carvalho)

Fernando ainda alega não ser a primeira vez que presenciou um caso de intimidação de professor para com alunos. “Na FFLCH, vejo professores que até ridicularizam seus alunos por chegarem à faculdade sem ter fluência em francês e latim”, desabafa.

Assembléias estudantis

César Tiossi, 48 anos, graduando do 4º ano de Ciências Sociais na FFLCH vai a assembleias constantemente, e diz que já viu regras serem mudadas para que ele não pudesse colocar seu ponto de vista. “Isso não acontece só comigo, mas com todos que têm uma visão diferenciada da maioria sobre o movimento estudantil. Cheguei a ser convidado a me retirar de grupos abertos de discussão que diziam que aquela era uma reunião privada e que eu estava a invadindo”, diz. “As assembleias estudantis são, de fato, um local exclusivo para panfletagem das ideias dos militantes de esquerda. Quando algum com ponto de vista diferente fala, ele é bombardeado por todas as falas que virão após a dele. Ao solicitar um direito de resposta, as falas são encerradas. Eu era evitado.”

Daniel Magalhães, estudante de Engenharia na Poli, diz que sofre preconceito em algumas unidades da USP ao usar uma camiseta de sua faculdade. “Isso é bastante recorrente nos momentos de maior atividade política na universidade. Já fui xingado e ameaçado, inclusive de morte, em assembleias de que eu nem estava participando ativamente. Já fui perseguido em manifestações e já vi pedras voarem perto de mim”, diz o aluno. “Quando se é ameaçado, perseguido e quando se pensa em chamar a polícia, ressurge a grande polêmica contra a repressão dentro do campus. Quando a repressão vem por parte dos próprios alunos, este argumento não vale mais. Quem é responsável por essa repressão deve enfrentar as consequências. Deve haver punição para quem age de forma violenta ou repressiva”, finaliza.