Atléticas criticam falta de apoio da Universidade

Salários de técnicos, aluguel de quadras, inscrições em campeonatos e compra de materiais esportivos: alguns dos muitos gastos das AAAs

(ilustração: Ana Marques)“Infelizmente o esporte universitário não é reconhecido pelos órgãos públicos”. Assim resume a situação Henrique Mendes, diretor de marketing da Associação Atlética Acadêmica (AAA) da FEA. A opinião é a mesma na maioria das Atléticas no que diz respeito ao apoio que elas gostariam de receber das diretorias e da própria Universidade.

A situação varia de unidade para unidade. “Aqui o apoio da Universidade se dá por meio da Diretoria de nosso Instituto”, explica Renan Barbosa, secretário-geral da Atlética do IME. A ajuda se limita, porém, à concessão de espaço para festas – apoio que só foi conseguido há dois anos. “O grande problema que enfrentamos é o fato de a Diretoria não enxergar as atividades que organizamos com algum vínculo acadêmico”.

Aline Bel Giudice, Diretora de Marketing da Associação Atlética Farmácia e Bioquímica, concorda: “O esporte é uma forma de trabalhar a saúde e o bem-estar dos alunos”. Para ela, a concessão de espaços não é apoio suficiente. “O espaço já é nosso”.

Mesmo sendo um dos patrocinadores da Atlética da Odontologia, o dentista Erivaldo de Oliveira acredita que a própria instituição deveria dar mais apoio e dedicar mais dinheiro ao esporte. “Precisamos seguir o exemplo das faculdades dos Estados Unidos, onde o esporte é levado mais a sério”.

A disponibilização do Cepeusp para treinos é o principal incentivo às atividades esportivas das atléticas. “Para utilizarmos alguns espaços, porém, temos que pagar uma taxa de manutenção”, diz Henrique Mendes, da Atlética FEA. Para Matheus Yamada, da Atlética da Poli, apesar de um apoio financeiro da USP direto às AAAs não ser dispensado, “o melhor apoio que a Universidade poderia dar seria investir na revitalização e manutenção do Cepe, que pena com espaços antigos e mal-cuidados”.

Segundo ele, esse apoio existe na Poli. “Apesar de não recebermos nenhuma verba direta, como é comum em faculdades privadas, a diretoria ocasionalmente nos apoia financeiramente na compra coletiva de equipamentos esportivos ou custeando parte dos ônibus para competições”. Na Faculdade de Medicina também há apoio financeiro por parte da diretoria, segundo Liana Tortato, da Atlética desta unidade.

Patrocínios

Diante da insuficiente colaboração financeira das diretorias e da Universidade, associada ao nível cada vez maior do esporte universitário, as AAAs buscam por patrocínios e parcerias com empresas privadas. Segundo Henrique Mendes, da Atlética FEA, “o apoio de nossos patrocinadores é fundamental para garantir a nossa saúde financeira e permitir que financiemos nossos times”.

Participar de campeonatos, ter materiais esportivos de qualidade e manter treinos de várias modalidades demandam altos custos, de modo que o apoio do setor privado se apresenta de maneira cada vez mais atraente para as atléticas. “A principal entrada de verba é através dos patrocínios e parcerias que realizamos ao longo do ano”, explica Yamada sobre como a Poli se sustenta.

Por outro lado, muitas AAAs ainda não possuem apoios efetivos do setor privado. “O patrocínio não é fixo. A gente corre atrás de várias empresas e, às vezes, conseguimos. Existem épocas em que não recebemos nada”, conta Aline Giudice. Para a AAA do IME, a situação é parecida: “Na verdade, apenas dois times nossos contam com a ajuda de empresas. Eles recebem um apoio financeiro e, em troca, cedem espaço nos uniformes para as marcas”, observa Barbosa.

Alternativa

“A maior parte da nossa verba não vem de patrocínio, mas sim dos nossos eventos”, explica Aline. As festas ainda são a principal maneira da maioria das AAAs da USP conseguirem renda. “Sem elas, não conseguiríamos sustentar nossos times e, menos ainda, melhorar o nosso nível esportivo”, conta Alana Gouveia, diretora de operações financeiras da Atlética da ECA.

Entretanto, mesmo entre as AAAs que ainda se mantêm por meio da realização de eventos, há a ideia de que a busca por parcerias é uma maneira acessível de garantir a sustentação do esporte universitário. “Nossas festas ainda conseguem bancar o nosso esporte, mas não queremos que elas tomem proporções cada vez maiores. Uma das nossas metas, justamente por causa disso, é aumentar nosso leque de patrocínios e o envolvimento com a diretoria da ECA”, completa Alana.

De acordo com Barbosa, porém, existe uma parcela de culpa das atléticas em relação à falta de verbas: “Não podemos deixar de fazer uma auto-crítica. A falta de parceria se deve também a uma estrutura amadora da nossa atlética [IME]. Para explicar isso, dou o exemplo das atléticas da FEA e da Poli; que possuem uma mentalidade mais empresarial, além de um número maior de integrantes destinados apenas à arrecadação de fundos através de patrocínios e eventos”.


Por outro lado

A utilização de verba de patrocínio pelas atléticas é motivo de polêmica para parte da comunidade universitária. A Atlética da FFLCH, por exemplo, não aceita patrocínio de empresas, apesar de manter parcerias para descontos nas bebidas vendidas em eventos. “Somos uma universidade pública e não faz sentido divulgar empresas”, diz Lígia Perroni, presidente da entidade.

Para o aluno Guilherme Balza, da ECA, as AAA’s da USP têm seguido um caminho errado ao se enxergarem como empresas. “As atléticas usam patrocínio porque se tornaram entidades competitivas, que elegeram a conquista de campeonatos como meta principal”. Segundo ele, os patrocínios só são necessários pois as atléticas gastam dinheiro com inscrições em competições caras. “Se as Atléticas enxergassem o esporte enquanto prática coletiva provida de função social, que tem capacidade de divertir, sociabilizar e de ser uma atividade crítica também, não precisariam se submeter a essa lógica mercantil e conseguiriam se manter de pé, inclusive oferecendo aulas e festas aos estudantes, com as fontes tradicionais de financiamento das entidades estudantis, basicamente a venda de cerveja”. Também nas festas ele enxerga o patrocínio como algo prejudicial: “As atléticas se associam a empresas para organizar festas megalomaníacas com convites caros. Os únicos que lucram com isso são as empresas, já que o dinheiro que as AAAs ganham é usado para campeonatos”.