Reitoria apresenta estudo sobre Nova ECA

Área destinada ao novo prédio da unidade será instalado na região dos barracões; comunidade acadêmica reclama da falta de informações sobre o projeto

A Reitoria da USP publicou na edição nº50 do USP Destaques, seu boletim oficial, um estudo volumétrico do que seria o prédio da Nova ECA. A divulgação desse estudo surpreendeu a diretoria e o resto da comunidade acadêmica, uma vez que as discussões a respeito desse projeto estavam estagnadas até então.

Estudo volumétrico da Reitoria para o projeto da nova ECA (foto: USP Destaques)
Estudo volumétrico da Reitoria para o projeto da nova ECA (foto: USP Destaques)

“Surpreendeu-me ele (o reitor) ter colocado em publico. Quando a gente viu aquilo, em uma pequena reunião com ele, eu perguntei ‘Isso já é a Nova ECA?’, e ele disse ‘Isso é estudo volumétrico ainda’”, alega o professor Mauro Wilton, atual diretor da Escola de Comunicações e Artes.  Ainda de acordo com o diretor, o estudo apresentado foi feito pela SEF (Superintendência do Espaço Físico da universidade), sem o seu conhecimento.

Após a divulgação do boletim, o diretoria da ECA enviou um documento a SEF pedindo algumas explicações sobre o projeto. Em reunião com o Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC), o diretor mostrou esse documento. “Ele (o documento) questionava não a existência do prédio, mas algumas características de sua estrutura”, comenta Lira Alli, aluna do 5º ano de Artes Cênicas e diretora do CALC.

Quando questionado sobre o andamento do projeto, o professor Mauro Wilton alegou não ter muitas informações a seu respeito. Ele garante não saber qual é a origem do dinheiro envolvido, tampouco se o estudo desenvolvido contempla as necessidades de cada departamento da ECA. “A única coisa que estamos tentando ver é se conseguimos reter aqui algumas coisas nossas, por exemplo, o teatro laboratório. Alguns investimentos que foram feitos (na ECA) têm uma qualidade boa, apesar de todas as deficiências”, alega ele.

Ainda de acordo com o diretor, as informações a respeito do andamento do projeto seriam uma exclusividade da SEF. De acordo com a secretaria da divisão, o responsável pelo projeto é o arquiteto Sérgio Assumpção, que se encontra de férias até o próximo dia 30. Até o fechamento dessa edição, Sérgio não respondeu nenhum dos e-mails enviados pela reportagem do Jornal do Campus.

Histórico

O projeto de um novo prédio para a unidade vem sendo alvo de muita discussão entre a comunidade acadêmica. Após um levantamento sobre as eventuais demandas de cada departamento, a diretoria da escola formou uma comissão especial para discutir a proposta, composta por alguns professores e representantes discentes.

Em 2010, os estudantes realizaram uma plenária com o professor Mauro Wilton a fim de obter mais informações a respeito do projeto. Naquela época, a principal reivindicação era de que as discussões e as deliberações fossem feitas em um fórum paritário, com igual presença de estudantes, funcionários e professores. “Pelo menos em 2010, a diretoria mostrava uma abertura para o diálogo, coisa que não está acontecendo atualmente. Além disso, queria saber: o que vai ser feito com o espaço atual? Vai ser derrubado? Vai virar o que?” questiona Júlia Alves, aluna do 4º ano de Audiovisual sobre a falta de informações do processo.

Região dos barracões

A área oferecida pela Reitoria à diretoria da ECA para a construção do novo prédio, localizada atrás da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA) é a mesma onde estão atualmente os “barracões”. Essas construções foram feitas na Cidade Universitária ao final da década de 60, para abrigar provisoriamente algumas unidades que se encontravam fora do campus. Ao longo dos anos, os barracões receberam também entidades e grupos autônomos, mas recentemente, com a política de revitalização do campus proposta pela Reitoria, as construções serão demolidas, e as organizações que usam seu espaço, realocadas.

Situação atual de um dos barracões localizado atrás da FEA (foto: Meire Kusumoto)
Situação atual de um dos barracões localizado atrás da FEA (foto: Meire Kusumoto)

Entre essas organizações, estão o Núcleo de Consciência Negra (NCN), o Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson (CAMRN), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), o Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da FEA e o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir). O Núcleo de Estudos da Violência (NEV), que também ocupava um dos barracões, foi realocado em julho de 2011 para uma área no Instituto de Pesquisas Técnológicas (IPT).

A situação do NCN é uma das mais conturbadas. O Núcleo, que oferece cursos preparatórios para o vestibular e cursos de idiomas no campus não tem vínculos formais com a USP. Ele está na área dos barracões desde o começo da década de 1990, porém de acordo com o nº 50 do USP Destaques, o Núcleo só poderia pleitear um espaço para suas instalações quando regularizasse sua situação. Maria José Menezes, do NCN, afirma que o empecilho não muda o desejo do Núcleo de se manter autônomo, sem se transformar numa entidade da USP.

Para que a legitimidade do Núcleo fosse reconhecida, seria necessário que fosse assinado um convênio entre a entidade e a universidade. Para que esse convênio fosse viabilizado, o Núcleo precisaria seguir algumas condições, discriminadas no processo 2003.1.5921.1.3: oferecer cursos gratuitos, não vincular a marca USP ao seu nome e organizar um relatório que descrevesse e justificasse as suas atividades.

A marca USP já foi retirada do nome e o convênio foi bem aceito pelo secretário geral da Universidade, professor Rubens Beçak. Em documento da Procuradoria Jurídica da USP, ele atesta que “A solicitação de regularização deverá ser acatada”. No entanto, a concessão do uso do espaço foi vetada pelo coordenador da SEF, Antônio Marcos Massola. A explicação dada para o ocorrido foi exatamente a desativação da área dos barracões e, desde então, eles tentaram retomar o contato com a SEF, sem sucesso.

No caso dos centros acadêmicos, a primeira notícia da desocupação dos barracões não veio de nenhuma fonte oficial. Ambos receberam informações informais sobre o assunto e foram em busca de confirmações. O CAMRN questionou a diretoria da FMVZ; já o CAVC procurou informações com a SEF.

“No começo foi tudo muito difícil, inclusive a comunicação. Ninguém sabia ao certo o que ia acontecer”, conta Karoline Garganta, presidente do CAMRN.

Após algumas negociações, a Reitoria e a diretoria da FMVZ asseguraram que o Centro Acadêmico teria uma sede definitiva dentro da própria unidade e não seria obrigado a abandonar os barracões enquanto não fosse garantido um espaço. O CAVC entrou em contato com a diretoria da FEA, que prometeu um novo espaço de vivência. O CA chegou a sugerir um local para sua sede no prédio FEA-5, mas ainda não recebeu resposta.

A mudança gera insegurança nos alunos, que temem a demora do processo. “Estamos com medo porque não sabemos direito onde será a nossa nova sede e nem quando as obras começarão. Não podemos, nem queremos sair da área dos barracões sem ter algo garantido”, diz Marco Bonazzoli, do CAVC.

Para entender o processo

De acordo com o professor Mauro Wilton, em 2009, a diretoria da ECA tinha planos de construir um novo bloco para a unidade, onde funcionariam um auditório de 400 lugares, uma extensão da biblioteca e algumas salas de aula. Após algumas negociações, a reitora da época, Suely Vilela, ofereceu uma verba de 6 milhões de reais à escola, que seriam doadas em duas parcelas. Feito o pagamento da primeira parcela, a mudança na gestão da Reitoria provocou uma ruptura nesse processo. Quando a diretoria foi receber a segunda parcela, o atual reitor fez uma contra-proposta: em vez de fazer reformas na escola, João Grandino Rodas ofereceu a construção de um novo prédio para a unidade. A diretoria da ECA aceitou a proposta, desde que o processo fosse marcado por algumas condições: que a escola tivesse autonomia para decidir qual seria seu novo espaço, que pudesse exigir quais seriam as condições arquitetônicas e que não saíssem de seu local atual até que o novo prédio ficasse pronto.